Secular, ‘um dos lugares mais bonitos do mundo’, tem um quê de sagrado e nos recebe assim

Poucas estadias podem se igualar à ilustre ocasião de se hospedar no La Mamounia, no Marrocos, dentro da Cidade Vermelha

Belisquei-me, afinal estava prestes a adentrar numa história de conto de fadas, um palácio célebre, considerado muitas vezes o melhor hotel do mundo e que traz consigo uma herança de 101 anos de história. Em 2023, viveu a apoteose de seu centenário e mostrou que mais magia era possível. A experiência que conto poderia ser uma estória de encanto, mas seu enredo é bem melhor. Pois trata-se do La Mamounia, que preservou sua ilustre herança, frequentado e querido pelo jet set internacional!

A avenida que leva até ele, a joia da coroa de Marrakech, já recebeu meu olhar atento à cor rosa velho de suas múltiplas portas e construções, neste país que mixa paisagens, aromas e especiarias, e véus inesperados, e que tem tanto a nos entregar. No coração de Marrakech, junto ao logo ali da Medina com seus tesouros empilhados e a 800 metros da praça mais célebre da cidade, a Jemaa el-Fna, o La Mamounia vem em camadas de descobertas – e todas recebem nosso UAU – nos detalhes que perfazem seus 13 hectares.

Quis entender o antídoto para a desordem natural da cidade vermelha. Não precisei esperar. Assim que dei o primeiro passo em direção ao majestoso hotel, tive a impressão de estar vivendo um conto de luxo máximo das arábias. Um staff de 650 pessoas se encarrega de mimar você e torna-se cada vez mais perceptível todas as razões que fizeram com que este lendário hotel se tornasse um refúgio relaxante para algumas das pessoas mais influentes da história moderna. Se pudéssemos voltar no tempo, poderíamos encontrar Winston Churchill ou Alfred Hitchcock no saguão. Porém, o mais impressionante é o quanto um lugar com tanta história se mantém up to date, atendendo ao mais sofisticado viajante de hoje. Porque, claro, ao longo de sua história, carrega um exemplo da reinvenção contínua de uma cultura.

As origens do La Mamounia remontam ao século XVIII, quando o sultão alauita Mohammed Ben Abdallah deu ao filho como presente de casamento um suntuoso pomar de 13 hectares chamado “Arset El Mamoun”, que dá nome à estrutura cinco estrelas. O parque, repleto de oliveiras centenárias, roseiras, laranjeiras e outros tipos de plantas, cedo se transformou num local de lazer, palco de festas muito elegantes.

Em 1922, a Companhia Ferroviária Marroquina decidiu transformar este local num hotel, transformando o oásis no La Mamounia, fundindo arquitetura árabe e andaluza com influências art déco. Na última grande reforma, para seu centenário, a proa teve três protagonistas: o gerente geral Pierre Jochem e a dupla de arquitetos e designers Patrick Jouin e Sanjit Manku, que trouxeram uma contribuição significativa em termos de contemporaneidade, tanto pela presença abundante e disruptiva de mobiliário de design quanto pelo maior dinamismo concedido aos ambientes, após meses de remodelação. Conhecido como La Grande Dame, ele veio mais bonito do que nunca.

Após a idílica recepção no seu jardim frontal, o seguinte UAU é direcionado para o lobby, uma instalação monumental a menos de um metro acima do piso do saguão, com muito brilho e um design intrincado celebrando a arte marroquina, as tradições e, notavelmente, a feminilidade berbere, inspirando-se em colares berberes tradicionais. Os componentes de vidro, semelhantes às contas em um cordão vermelho vibrante, são soprados à mão nas vidrarias tchecas de Lasvit, empresa líder em design e fabricação de vidro e iluminação com arte e poesia, exibindo a beleza do cristal tcheco.

À medida que o descobrimos, mais o La Mamounia se revela no hotel de conto de fadas que se perde num mundo secreto feito de pátios adornados com colunas e frisos mouriscos, oliveiras centenárias, jardins de rosas, laranjeiras e outras mil espécies de plantas que o tornam o carro-chefe e sempre caracterizam o hotel cinco estrelas como uma verdadeira lenda que perdura.

Majorelle Suite, La Mamounia

Seus interiores homenageiam a rica tradição marroquina de hospitalidade e generosidade, com elegantes ambientes de convívio como o ‘Salon de Thé de Pierre Hermé’ e o ‘Bar Italien’, ambos concebidos em colaboração com o chef Pierre Hermé, o maior chef pâttisier do mundo. Ao ingressar naquele que é considerado o melhor hotel do mundo, tem-se a compreensão exata das razões. Cada integrante deste staff de 650 pessoas executa seu ofício com maestria, desenvoltura e com absoluto domínio do que faz. E isto se torna ainda mais perceptível quando nos sentamos à mesa de seus restaurantes.

Meu primeiro jantar foi no Le Marocain, de comida típica marroquina servida em todo o seu esplendor e disputadíssimo por quem vem a Marrakech e ao La Mamounia, ditado pela cozinha do chef Rachid Agouray. Claro, observei o dress code, afinal naquele que é considerado o melhor do mundo tudo pode acontecer, desde jantarmos com uma estrela de Hollywood na mesa ao lado a degustarmos um dos melhores jantares das nossas vidas. Essa sensação é evidente aqui.

A experiência já se inicia ao percorrer os imensos e lindos jardins até chegar ao seu pátio em tons de azul, com a inebriante música ao vivo com violinos e alaúdes. O restaurante de diversas áreas, das mais privadas e românticas ao quase no jardim, convida a pequenas surpresas e tive esta experiência gastronômica como a iniciação de uma viagem de descobertas, iniciando por uma sopa saborosa, acompanhada de tâmaras gigantes e macias, e chbakias, doces tradicionais com mel e gergelim, tão crocantes e terrivelmente viciantes. Desde o lugar aos pratos servidos, há uma alquimia perfeita entre tradição e modernidade.

São três os restaurantes principais. Na segunda noite, nossa escolha foi pelo L’Asiatique, que tem à frente o célebre chef Jean-Georges, também responsável pelo Restaurante Italiano, tratoria excelente. E como queríamos saborear esta experiência de aqui estar à exaustão, encerrávamos sempre com um vinho do Porto na área externa do Bar Majorelle, com música ao vivo de pano de fundo.

A experiência gastronômica que o La Mamounia proporciona é do mais alto nível. Nossos cafés da manhã eram no Le Pavilloon de la Piscine, junto à gigante piscina e com diversos stands de comidas. Há tanto o que se esperar deste lugar que encerra a verdadeira alma do Marrocos, que não conseguimos revelar tudo. Mas há outro lugar que cativou por demais, renovando a máxima de que aqui se descobre um destino privilegiado para epicuristas e amantes da boa comida!

Você sabia que o Marrocos é rota para os apreciadores de vinho e que a produção vitivinícola marroquina vem se destacando ao longo dos tempos? Um dos mais novos espaços é a Enoteca, onde tivemos uma experiência sensorial singular. Descemos ao subsolo, até o tesouro descoberto pelos dez sommeliers do hotel, um deles, Yassine Ghafir, excepcional em nos guiar na jornada dos vinhos privados da adega. Uma bela mesa em pedra fica sob uma grande abertura no telhado, de onde a luz é difundida através de um lustre de cordas, iluminando os tintos e brancos para revelar os seus segredos. Simplesmente, inesquecível!

 

Spa, La Mamounia

Um lugar amado pelas pessoas que fizeram a história do século XX

Desde a sua inauguração, muitas celebridades e personalidades proeminentes se hospedaram no hotel. Winston Churchill costumava ir de uma varanda a outra para observar o sol e para melhor captar as cores e reproduzi-las em suas telas. Muitas de suas pinturas, que retratam o parque ou alguns recantos do hotel, ainda hoje podem ser admiradas no Museu Churchill, na Inglaterra. O próprio Churchill disse a Franklin Roosevelt, em 1943: “É um dos lugares mais bonitos do mundo”.

Aqui também foram gravados os filmes “Alerte Sud” de Jean Tissier e “O Homem que Sabia Demais” de Alfred Hitchcock, assim como, mais recentemente, “A Rainha do Deserto” de Werner Herzog. Em 1955, Charlie Chaplin se hospedou no hotel, e depois dele também Marcello Mastroianni, Luc Besson, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Nicole Kidman, Silvester Stallone, Catherine Deneuve, nosso Paulo Coelho e muitos outros.

O encanto de Marrakech e do La Mamounia atraiu também estrelas da moda que se deixaram conquistar pelo estilo requintado do local, como Versace, Kenzo, Valentino e Jean Paul Gauthier ou Yves Saint – Laurent e Pierre Bergé, que mais de uma vez trocaram a sua segunda casa na cidade vermelha por uma estadia num hotel. A lista de celebridades recebidas pelo La Mamounia não termina aqui, e o livro de visitas conta todas as impressões e emoções sentidas pelas estrelas e grandes nomes do mundo que aqui ficaram hospedados.

Conteúdo publicado na edição 61 da revista Gente que Faz:



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