Golfe em Santa Cruz do Sul
Publicado em 17 de fevereiro de 2016Um esporte sofisticado para homens bem-sucedidos. Com um vocabulário peculiar e um cenário verdejante sob os pés dos praticantes, o golfe cativa adeptos fiéis em country club.
A palavra golfe provém do inglês golf que, por sua vez, vem do alemão kolb, cujo significado é taco. A origem desse esporte tem várias versões, mas o importante é saber que o sucesso mundial iniciou nos Estados Unidos e não parou mais. O golfe é um dos esportes que mais crescem no mundo. Surpreso? É, você achava que o futebol estava com a bola toda. Então vem o golfe e faz um handicap.
Não que o esporte seja propriamente popular. Você vai perceber que os jogadores são executivos, profissionais de gestão e empresários. O golfe é um esporte para bem-sucedidos. No Brasil, o número de golfistas ainda não é expressivo, mas há torneios e transmissões do esporte na televisão a cabo.
No Rio Grande do Sul, há menos de 15 campos de golfe. Um deles localiza-se em Santa Cruz do Sul. Chamado de Country Club, o local é mesmo sofisticado. Inaugurado há mais de 50 anos, conta com um campo de 18 buracos e uma estrutura para cativar qualquer iniciante. O gramado e as árvores fazem parte do jogo. Logo, o desportista mantém uma relação com o meio ambiente, os amigos e, é claro, como há uma concentração de executivos, pode até fechar um negócio entre uma jarda e outra.
Durante um jogo, os atletas caminham em média 4 km e uma partida pode levar de 4 a 5 horas. (Para você sentir que é preciso confiar mesmo no seu taco e no condicionamento físico.) O perfil do atleta é essencialmente masculino, e a idade varia de menores de 18 a maiores de 60 anos. O esporte permite essa flexibilidade.
O Santa Cruz Country Club tem uma vida movimentada. Só em novembro, sediou cinco tipos de torneios. E há talentos se revelando pelo swing.
Sangue de campeão
O estudante Rohan Boettcher descobriu o gosto pelo esporte aos seis anos. Começou a treinar e fez o approach com o esporte. Hoje, aos 12 anos, disputa torneios internacionais. Primeiro ele teve de fazer algumas correções típicas do esporte: melhorar seu swing (postura) e reforçar a habilidade. Não deu outra, aos 11 anos, sagrou-se Campeão Brasileiro na categoria. Como prêmio, recebeu uma semana de treinamento na melhor academia de golfe do mundo, em David Leadbetter, na Flórida.
Depois foi convidado pela Confederação Brasileira de Golfe para representar o Brasil no maior torneio de golfe do mundo, realizado em San Diego, na Califórnia, em 2011. O garoto é bom, hole in one. O golfe possui um vocabulário próprio, que surpreende e incita a curiosidade de quem não está familiarizado. Caddie, por exemplo, é o carregador de taco. Sim, enquanto o golfista se volta para o lazer ou o espetáculo, há quem carregue o taco. Chique, não?
Mas não é bem assim para Rohan. Sua rotina é puxada e exige esforço físico e mental. Ao menos quatro vezes por semana ele treina, preparando-se para disputar grandes torneios. Seu desejo é tornar-se jogador profissional. Nos finais de semana, faz aulas em Porto alegre, onde troca experiência com jogadores de sua idade. “Normalmente, aqui em Santa Cruz, eu jogo com os adultos, porque sou o mais novo aqui, mas nos torneios brasileiros jogo com garotos da minha idade”.
Os pais o apoiam e, como o garoto, almejam grandes vitórias. Rohan encara o esporte com seriedade. As roupas impecáveis, o zelo com que manuseia os tacos e a postura no campo não deixam dúvida do brilho desse pequeno grande campeão.
Entre uma tacada e outra: conversa
Entre uma tacada e outra, há mais coisas do que sonha a vã filosofia dos golfistas. Mas, para o médico Darci Luiz Klein, 60 anos, o espaço de tempo é suficiente para conversar e firmar laços de amizade. Klein é um entusiasta dos campos. Acredita que golfe é um estilo de vida. É apaixonado pelo esporte há 25 anos e não deixou o entusiasmo arrefecer: treina cinco vezes por semana. São muitas jardas para contar. Mas Klein sabe citar direitinho o motivo de o golfe o entusiasmar tanto: a proximidade com a natureza, a possibilidade de reunir amigos e os benefícios para a saúde. “Entre uma tacada e outra, a gente conversa, se distrai e contempla as maravilhas da natureza”, diz.
Segundo ele, o golfe é um esporte nivelado. Não tem idade, não tem grau de aprendizado nem necessidade de adversários. O que precisa é somente disciplina e concentração.
E se jogar cinco vezes surpreende, ele conseguiu elevar a façanha. Pela sua motivação, a filha de 12 anos se tornou campeã brasileira pré-juvenil. “Foi a maneira que encontrei de ser compreendido e não cobrado pela ausência nos finais de semana”, brinca.
Não existem férias para o golfe. No litoral, tratou de encontrar um lugar para treinar. “Jogo perto de casa durante o ano, em Xangri-lá quando estou na praia, ou durante os passeios.” Volta e meia vai a Porto Alegre, onde também é sócio do clube de golfe.
Como médico, a profissão vem em primeiro plano. Mas consegue infiltrar o esporte em sua rotina, mesmo que não tenha tempo de ir a um campo. É um propagador do esporte. Defende que o golfe seja popularizado. “Mas sem vulgarizar”, esclarece. O golfe é um esporte cheio de etiquetas e detalhes precisam ser respeitados. Só quem se adapta fica.
Veterano e mestre
Nos gramados do country, Acélio Aluisio Koth é uma figura conhecida. Sabe de todas as nuances dos 18 buracos do clube bem como da aptidão, dos erros e dos acertos de muitos jogadores. Com 60 anos, é o instrutor do esporte, mas foi exímio jogador em outros tempos. Amigos testemunharam seus lances e habilidades ainda quando os tacos eram mais pesados e dificultavam o manejo, mas agora uma lesão no joelho o impede de praticar o esporte com todas as regras e regulamentos. Ele, entretanto, encontrou uma forma de permanecer no campo: transformou-se em professor.
A paixão atravessa décadas, desde que o clube foi inaugurado em 1959. O menino de nove anos, que nem conhecia o vocabulário dos golfistas, atreveu-se a virar caddie. Carregava os tacos, atento às jogadas dos esportistas. Com o tempo, foi alçado ao cargo de supervisor de campo e, desde 2001, ministra aulas para iniciantes. Concentração e treinamento são as dicas que devem ser levadas a sério pelos aprendizes. Elas são repassadas aos novatos num campo auxiliar, que serve para treinos e socialização dos amantes do esporte. “Aqui é um espaço aberto ao público. Quem quiser jogar paga pelas bolas e nós emprestamos os tacos e a infraestrutura”, explica o mestre.
Depois de o aluno dominar a técnica corretamente, seguirá treinando sozinho. Hoje é mais fácil aprender o esporte porque os tacos estão mais leves, o que facilita o manuseio para os aprendizes. “O design moderno das varas de grafite com cabeça de titânio melhora o desempenho”. Um mestre que passa conhecimentos a seus discípulos e acompanha, com olhos atentos, o crescimento do esporte na região.
Santa Cruz Country Club
Localizado a poucos minutos do centro de Santa Cruz, o clube possui um campo com 18 buracos e oferece uma vista maravilhosa da cidade e uma visão privilegiada do campo e dos greens dos buracos 9 e 18. A sede inclui salão principal, salão superior com terraço, salão de jogos, bar, secretaria, vestiários, banheiros, sala de tacos, varanda, churrasqueira e cozinha.
CURIOSIDADE
A função do caddie
Sabe aquele cara que segue o golfista nos filmes americanos? É um caddie. A atividade de caddie consiste em auxiliar os golfistas no campo, e suas atribuições são: cuidar dos equipamentos utilizados e transportá-los, recolocar pedaços de grama, rastelar as bancas de areia após o impacto causado pelas tacadas, orientar o jogador quanto à localização da bola e fornecer informações sobre o campo.
No Brasil essa função costuma ser exercida por jovens de famílias de baixa renda que moram nas imediações de campos de golfe. Depois de algum tempo em contato com o esporte, o caddie passa a conhecer melhor o campo, os equipamentos e, inclusive, algumas regras do esporte. Muitos desses jovens se apaixonam pelo golfe e, em alguns clubes, é tradição disponibilizar o campo determinado dia da semana para que os caddies interessados possam treinar. Provavelmente essa seja a justificativa para que, no Brasil, 90% dos jogadores de golfe profissionais tenham anteriormente exercido a função de caddie.