Planeta Decornautas
Publicado em 13 de janeiro de 2020Os jornalistas e diretores criativos Allex Colontonio e André Rodrigues, as personas por trás da revista colecionável POP-SE e do perfil @Decornautas estão entre os nomes mais festejados, coloridos e intensos do curto-circuito da arquitetura, design, artes e décor
Escrevo esse texto voltando do cinema, no meio da semana, em pleno expediente. É uma quarta-feira fria de junho em São Paulo, não é feriado e pegamos a sessão das 14h30 de “Rocketman”, cinebiografia do cantor Elton John, logo após um almoço divertidíssimo com toda a entourage da redação que o circuito conhece como Decornautas House. Mais um dia típico, em que trabalho se mistura à cultura pop e a troca de referências entre a equipe se dá no escurinho do cinema, numa exposição, num museu, numa galeria de arte, num show e/ou ao redor de uma mesa farta.
Com Allex Colontonio e André Rodrigues, labuta-se muito (às vezes aos sábados, domingos e feriados), mas diverte-se mais ainda. E aprende-se todos os dias, é claro. Eles fazem questão de investir no abastecimento intelectual do staff (um time de dez pessoas entre jornalistas e designers que é praticamente o mesmo desde sempre – e quem saiu continua sempre por perto, de um jeito ou de outro) como uma forma de estímulo que se reflete em todos os projetos que assinam, com a nossa ajuda ou sem ela, inclusive na revista POP-SE, almanaque de estilo impresso em formato colecionável, desde já indicada a prêmios internacionais (concorreu aos troféus de Melhor Capa, Design, Fotografia e Ilustração no SPD – The Society of Publication Designers, a mais expressiva condecoração do mundo gráfico) e que acabou virando pauta em publicações internacionais que são referência-máxima, caso da inglesa Monocle que escreveu: “A revista POP-SE colore as bancas e oferece uma resistência bem-vinda ao conservadorismo do novo governo brasileiro”. Usina criativa em constante ebulição, acelerados, corretíssimos em suas condutas, defensores da ética e da transparência, amados pelo mercado e polêmicos em seus posicionamentos críticos no universo da decoração, Allex e André são jornalistas e diretores artísticos que estão entre os nomes mais reverenciados do País nesta seara. Há vinte anos trabalho com eles e acompanho, bem de perto, a rotina e a carreira da dupla que por onde passa desenrola um conteúdo exclusivo – sem ser exclusivista – sobre design, décor, lifestyle, comportamento e arquitetura, entre outras pautas que invariavelmente convidam ao pensar e ao agir dentro de uma estética atualizada e sem amarras. No portfólio do duo há de tudo um pouco e um pouco de tudo: livros, artbooks, revistas, fanzines, campanhas publicitárias, ensaios fotográficos (com celebridades que vão de Regina Duarte a Claudia Leitte; de Ney Matogrosso a Mariana Ximenes; de Elza Soares a Iza; de Vera Fischer a Pabllo Vittar), mostras, consultorias pontuais para marcas e até espetáculos musicais, caso da reabertura do Auditório da Fundação Memorial da América Latina (dirigida por Colontonio em 2017), para a qual desenharam um show com divas da MPB (de Baby do Brasil a Paula Lima) e participação da Orquestra Jazz Sinfônica.
Os Decornautas, de fato, não brincam em serviço quando se trata de bolar soluções “fora da caixa” – seja para devolver um patrimônio público à cidade, seja para reposicionar a imagem de um label –, sempre muito bem referendadas por textões/manifestos que trazem robustez às suas ideias e conceitos. Outra trademark de A+A são as suas palestras e talks sobre estilo e “tendências”, que os próprios preferem chamar de narrativas. Elas fogem do blá-blá-blá superficialista – hoje em dia ao alcance de qualquer um que se disponha a dar uma pesquisada no Google/YouTube – e miram diálogos mais personalizados sobre o habitar e que fazem a diferença na arte do bem viver e no consumo consciente. Cientificamente alfabetizado, como gosta de se autoproclamar, André tem graduação em Química, Letras e Jornalismo. Após colaborar em veículos como Vogue e Jornal do Brasil, ele criou o projeto editorial para um dos mais expressivos sites de moda do País, o FFW. Também editou a revista mag! (título icônico e muito respeitado no universo fashion), as publicações Joyce Pascowitch, Modo de Vida e diversos títulos L’Officiel (além da revista-mãe, encabeçou a Voyage e a Hommes). No design, dirigiu KAZA, GIZ e fez projetos especiais para Melissa.
Após dez anos como editor-chefe de Casa Vogue, Allex Colontonio ressignificou o mercado editorial deste segmento (arquitetura/décor) ao lançar a aclamada Wish Casa. Ele foi o responsável por reposicionar a KAZA no mapa com projeto mais arrojado e, anos depois, voltou a sacolejar o mercado editorial com sua premiada revista GIZ. Responde pelos livros de expoentes do traço que vão de Guilherme Torres a Sig Bergamin, e cuida de estratégias de comunicação para marcas que são referência no segmento de luxo, como a Artefacto. Mais recentemente, subiu o volume em alguns decibéis ao criar, produzir e compor, junto com Rodrigues (seu parceiro de casa e de vida há 20 anos) a nova revista que já está na boca do povo. Donos de um jeito de viver idiossincrático e super cromático – um ecossistema onde não há limiar entre trabalhar e se auto-expressar, o apartamento em que viveram durante uma década ficava em Sampa, mas rodou o planeta: da capa da AW Architektur & Wohnen (a revista de arquitetura mais antiga e tradicional da Alemanha), passando pela Design View e pela idolatrada AD Spain. Tamanha visibilidade transbordou do copo: adeptos do lema “o meio é a mensagem” eles dão um passo além com a criação da primeira design house brasileira cem por cento vivenciada – as cobaias serão eles próprios. “A gente acredita que podemos compartilhar nossas referências – criativas, culturais, sócio-comportamentais, científicas, artísticas, técnicas – também por meio do lugar que habitamos. A casa deve ser um meio para veicular mensagens”. Com esses dois a bordo, a gente vive fora de órbita, num universo muito além da imaginação. Que venham mais 20 anos – daí eu me aposento!
Por Ana Paula de Assis
Fotos Divulgação
Conteúdo apresentado na edição 44 da revista Gente que Faz