Ele fez do seu lugar um oásis de cor e sabor

A gastronomia de Beto Pimentel tem o cheiro, o sabor e o colorido do nosso Brasil. Com tanta terra e tanta diversidade, descobriu a riqueza de nossas frutas e fez o saudável se tornar inesquecível   

Desde a primeira vez que conheci o alquimista Beto Pimentel e experimentei o sabor de seus pratos, sempre quis voltar aos seus domínios, em Salvador. Amante da natureza, homem simples e de alegria contagiante, ele fez de seu Paraíso Tropical, o único restaurante brasileiro premiado pela cobiçada Commanderie dês Cordons Bleus de France, maior escola de gastronomia do mundo.

A moqueca de Beto, ah, essa você não encontra em lugar algum! Azeite de dendê processado e leite de coco engarrafado passam longe de sua moqueca.  Ao invés disso, utiliza o fruto do dendê e a polpa do coco verde batida na própria água. Ele cria sabores tão surpreendentes quanto o seu jeito de ser. Viúvo quatro vezes, 23 filhos e um número de netos que já desistiu de contar, o agrônomo Beto fez do seu restaurante e de sua gastronomia a extensão de seu belo pomar. Seus pratos leves e coloridos podem levar ingá, biri-biri, maturi, licuri, goiaba, caju, jaca, carambola, bacuri, cajá, pupunha, sapoti, mangaba e outras tantas frutas cultivadas em um espaço de 60 mil metros quadrados, colado ao restaurante.  Enquanto degustamos seus pratos, escutamos suas histórias e a química dos alimentos, que tanto domina. A poesia de Beto, seu conhecimento, sua história de vida, cativam. Vale torcer para que ele lá esteja, pois, quando Beto não está na cozinha, está na terra.

Da moqueca a caldeirada, tudo é orgânico, natural, feito de forma artesanal, respeitando as características de cada alimento. “Aqui não entra maionese, leite de coco, creme de leite”, afirma. Ele, que também estudou Química Alimentar na França e que foi inicialmente acusado de descaracterizar a cozinha baiana, hoje tem o seu nome badalado e acumula prêmios resultado de sua culinária inovadora e revolucionária (sem perder suas raízes), feita à base de frutas e ervas exóticas cultivadas em sua horta e pomar.  “Nascemos em um país em que só o estado da Bahia tem cinco biomas, cinco climas diferentes. A diversidade é muito grande de nutrientes, frutas, folhas, cascas, madeiras, temos que aproveitar”, complementa.                                                       

O Paraíso Tropical é o único da Bahia que os empresários e bons gourmets Ricardo Amaral e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, citam no guia que escreveram juntos e que foi lançado em 2014. “O chef Beto Pimentel, assim, como quem não quer nada, causou uma pequena revolução na culinária baiana, com reflexos na gastronomia brasileira: a incorporação, inteligente e criteriosa, da riqueza frutífera do Brasil nas receitas salgadas”, comentam os autores, no livro “Guia dos Guias”.

Sobremesa neste paraíso de Beto? Fruta grelhada, sem dúvida alguma! Mas, antes disso, pego o celular e ligo o gravador, Beto nos presenteou com a sua poesia e eu não poderia correr o risco de não lembrar seus versos. E nem os apagar quero, de vez em quando escuto novamente o que mais me soa como mantra para vida:

Minha vida foi uma batalha eterna.

Não foram poucos metros. Foram léguas.

Saltei todos os obstáculos.

Tinha pressa, não fitei as trevas, nem tive tempo para as sestas.

Vou ganhar a guerra e vou fazer a festa.

TRÊS PERGUNTAS PARA O ALQUIMISTA BETO PIMENTEL:

Como você conhece tanto os benefícios das plantas?

Mandei muita coisa para analisar, gastei muito com laboratório. Agora o pessoal virou meu amigo e consigo fazer de graça. Não acredite em dito popular, acredite na ciência. Tem que mandar analisar verde, maduro, seco, de toda forma para ver o que aquele fruto tem.

Como é seu método de criação de receitas salgadas com frutas?

Por incrível que pareça, fica melhor. A minha moqueca leva caldinho de cacau, tangerina, limão, biri-biri. Na minha cozinha, não uso água, nem água mineral, tudo é feito com água de coco verde e ela não descaracteriza nada. Com um temperinho ninguém sabe se foi água de coco ou não que você colocou ali. Minha obrigação é fazer comida o mais saudável possível, fazer com que a pessoa saia de lá melhor do que entrou.

Como é a recepção das pessoas quando provam sua comida pela primeira vez?

É uma surpresa estúpida, só falta se ajoelhar. Não pense que o uso de frutas vai descaracterizar. A moqueca fica melhor e mais leve. Meu azeite de dendê, eu uso a polpa da própria fruta. Usando a fruta fica mais saudável e mais saboroso também, porque o dendê, se aquecido, vira gordura ruim, cheia de triglicerídeos. O pessoal fica bobo é com o sabor da minha cozinha. A mistura parece que não vai dar certo, mas dá.

 



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