Yes, nós temos burlesco

 

A luxúria e a ironia, o erótico e o lúdico ganham espaço com pin-ups pós modernas, que se inspiram nos míticos cabarés de Paris para compor seus shows. Elas fazem sucesso aqui e lá fora, como dançarinas neoburlescas

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          Magia, sedução e comédia. Assim podemos descrever a dança burlesca, que sem perder o glamour de décadas passadas, encanta plateias de todo Brasil. A arte explora o strip-tease de uma maneira não tão explícita. Nas apresentações, tudo ganha uma conotação divertida. A performer conduz a plateia como lhe convém de uma forma lúdica e única através do charme das coreografias, músicas, figurinos e muita sensualidade.

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O burlesco, que quer dizer exagero, surgiu nos Estados Unidos, na década de 60. Na época, a modalidade era composta por peças teatrais de comédia, que abordavam temas relacionados ao cotidiano das pessoas. De uma forma leve, descontraída e exagerada, as apresentações conquistavam o riso da plateia. A grande estrela da época, Gypsy Rose Lee, era expert em explorar sua sensualidade com um tom de comédia e muita inteligência.

Mais tarde, a dança burlesca ganhou uma nova interpretação: o strip-tease. Muito além de uma dança sensual em que as mulheres tiravam a roupa para seduzir os homens, o burlesco mistura arte com performances divertidas e engraçadas, além do visual pin up. As performers nunca ficavam completamente nuas devido à censura da época. Atualmente, a arte preserva a cultura história. Calcinhas fio-dental, tapa-sexo e adesivos para cobrir os mamilos eram e ainda são obrigatórios.

Os principais expoentes do burlesco são as cidades americanas de Nova Iorque, Seattle e Melbourne, na Austrália. Ainda pouco conhecida no Brasil, onde teve o conceito introduzido durante a Belle Epoque do país entre os anos 1889 e 1922, a arte burlesca preserva os itens principais da história. As apresentações continuam com caracterização tradicional da época, sendo uma forma de propagar a cultura e mostrar um outro lado do strip-tease para as pessoas.

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A pioneira neste tipo de performances no Brasil foi Karina Raquel, dançarina de ballet clássico em companhias de São Paulo e também formada em Hotelaria. Ela ficou conhecida como Fascinatrix desde 2006. Sem fazer a linha cômica ou escrachada, nem o estilo nerd/cosplay que vigora atualmente, Fascinatrix se define como uma “nova pin-up” e faz um trabalho de resgate dos pocket shows burlescos dos anos 30 e 40. O objetivo é engrandecer o strip-tease, desvalorizado por muito tempo e que voltou a ter sucesso com nomes como das americanas Dita Von Teese e Michelle L’Amour. Elas se tornaram musas da nova geração e se apresentam para grandes plateias em clubes, shows e eventos particulares. Michelle, inclusive, foi quem deu as primeiras dicas a Fascinatrix.

É impossível, aliás, pensar em burlesco sem lembrar da famosa Dita Von Teese, principal artista do gênero no mundo. Ela impressiona em suas apresentações pelos figurinos de alta costura e também pelo cenário com centenas de milhares de cristais Swarovski. Ou seja, Von Teese mostra ao máximo todo o poder, luxo e glamour do universo do neoburlesco, não sendo a toa um ícone fashion da moda, além de feminista ativa.

Atualmente, essa arte vive uma nova fase iniciada em 1993 chamada neoburlesco, da qual Dita é pioneira. O novo burlesco é mais intelectualizado do que o original, tendo seu foco dividido entre figurino, glamour, estética pin-up e dança, assim como o investimento em performances altamente teatralizadas, sem deixar de lado a questão principal da valorização da mulher.

Uma curiosidade que chama a atenção é que o burlesco foge de padrões estéticos de beleza. As mulheres que praticam essa arte são, geralmente, consideradas normais. Nada de corpos sarados. Não existe nenhum estereótipo específico. A única necessidade é criar algo fascinante e bonito. As apresentações exploram o que o corpo feminino tem de mais atraente: a naturalidade. Claro que seios caídos, gordurinhas, celulites e estrias fazem parte da apresentação. E quer saber? Ninguém se importa com isso.

No final de maio, a performer americana Miss Indigo Blue se apresentou no Valen18+, um bar erótico localizado em Porto Alegre. Nossa equipe conversou com ela. Entre tantas coisas, ela ressaltou que ama o Brasil e, inclusive, fez questão de responder a entrevista em português. Confira!

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O que é burlesco pra você? Para mim, o burlesco é uma combinação de sexo, amor e feminismo.

– Você atualmente vive das apresentações burlescas? – Sim. Comecei há mais de 25 anos no Lusty Lady, em Seattle (EUA), lugar de danças eróticas. Hoje, além de realizar as apresentações no meu país e fora dele, tenho desde 2003 uma escola de burlesco chamada Academy of Burlesque. A escola fica localizada na minha cidade, Seattle, onde meninas e meninos podem aprender essa arte através da dança e do teatro.

Como é trabalhar sozinha? – É a melhor coisa que tem! Meu trabalho é minha vida, é minha paixão. Assim, eu tenho a liberdade para criar o que eu quiser. Eu sou a minha diretora. É ótimo poder na minha idade decidir o que eu quero fazer. Sou realizada.

– Como mulher, qual a relação que você tem com o seu corpo? – Como toda mulher, tem partes minhas que eu gosto e outras não. Mas me sinto abençoada por poder usar meu corpo a trabalho. Quando eu estou no palco, o que faz eu me sentir melhor é ver as pessoas sorrindo e se divertindo, gostando da minha apresentação. A forma de dança ajuda a se libertar disso, pois empresto meu corpo para entregar felicidade.

– Não é difícil ter um relacionamento amoroso tendo como profissão algo que lida tanto com a exposição do corpo e, consequentemente, assédio? – Já tive problemas com isso, mas hoje sou bem resolvida. Se a pessoa quer ficar comigo e não aceita o meu trabalho, eu troco de pessoa, mas continuo fazendo o que eu mais amo!

 

Créditos das fotos: Valen Bar/Maiquel Borges e Fascinatrix por Lucas Fonseca e divulgação

por Brunna Weissheimer e Luísa Bergonci



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