Sustentabilidade, a política que une o mundo no século XXI

Com recursos naturais cada vez mais escassos, além de episódios como uma pandemia e guerra que restringem o acesso a eles, nações, pessoas e empresas buscam se realinhar para manter processos e buscar soluções para os meios produtivos

Sustentabilidade. O que vem à cabeça quando você lê ou ouve essa palavra? Naturalmente, algo relacionado ao meio ambiente, à preservação de um bioma, por exemplo. Porém, ser sustentável pode se aplicar a diversas coisas da nossa vida – não apenas ao quesito natureza. Por exemplo, uma empresa sustentável pode ser aquela que gerencia seus recursos de modo a não desperdiçá-los. O conceito tem sido empregado de modo mais frequente por organizações, empresas, líderes mundiais, que querem buscar eficiência e alinhar as práticas com o atual momento da sociedade e do planeta.

Claro, o tema mais sensível quando tratamos sobre a sustentabilidade é o meio ambiente. Chama a atenção a quantidade de ações que podemos tomar, mesmo pequenas, e que ajudam no objetivo final. Certamente, você já deve ter visto – ou até mesmo participado – de uma campanha para arrecadação de tampinhas de plástico, aquelas presentes em embalagens plásticas. Na maioria das vezes, o enfoque de;as é arrecadar fundos, a partir da venda desses materiais, para causas sociais, mas o ato de não coloca-las no lixo, armazená-las em quantidade e repassá-las a uma entidade que entregará para recicladores é, veja só, um ato sustentável. Estima-se que somente cada uma dessas tampas leve 450 anos para se decompor na natureza.

Outras ações básicas, como separar o lixo seco e orgânico, por exemplo, também são benéficas. Ou seja, apesar de olharmos para o macro sobre o tema – como emissão de gases poluentes, queimadas, esgotamento sanitário e a preservação de áreas, como a Amazônia, é possível que cada um faça um pouco em prol da sustentabilidade. Por isso, essa reportagem tem o intuito de mostrar de que modo empresas e pessoas estão trabalhando para minimizar impactos à natureza, sem que isso impacte diretamente suas atividades ou seus produtos.

Quais são as principais ações globais sobre o tema e o protagonismo do Brasil

Em nível internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem programas que focam no desenvolvimento sustentável das cidades. São 17 objetivos traçados pela entidade para embasar as políticas públicas nas grandes e pequenas cidades de todo o mundo. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, nome do programa da entidade “são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade”, é o que diz o texto sobre o programa. As metas envolvem, por exemplo, a erradicação da pobreza, cuidados com rios e florestas, investimento em tecnologia e infraestrutura e ampliação das redes de abastecimento de água e coleta de esgoto.

Além disso, outro importante documento firmado entre as nações mundiais é o Tratado de Paris, criado em 2015 por mais de 190 países. Por meio deste acordo, os governos se comprometeram em agir para manter o aumento da temperatura média mundial em menos de dois graus por ano, em relação aos níveis pré-industriais. Os governos apresentaram planos de ação nacionais para reduzirem as suas emissões por meio da formulação de sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, acrônimo em inglês).

O tema, inclusive, foi pauta da COP 27, conferência do clima realizada no mês de novembro no Cairo, Egito. O objetivo principal desta conferência foi debater questões em torno das mudanças climáticas no planeta, como planos de reduzir a emissão dos gases do efeito estufa, além de saber o que os países, signatários do Acordo de Paris, estão fazendo para atingirem as metas propostas até 2030, ano colocado como objetivo para as nações se adaptarem.

O Brasil foi tema central da conferência, por conta das potencialidades existentes para geração de energia limpa e de preservação dos biomas. A ideia é que o País se coloque como atrativo para investidores cuja intenção seja criar negócios sustentáveis, como parque eólicos, hidrelétricas ou usinas solares. Além disso, há o interesse de fundos internacionais em bancar, através de ajuda financeira, a preservação da Amazônia, considerada o “pulmão” do mundo.

Com cenários como a pandemia, que diminuiu em muito os insumos para a indústria mundial e a guerra entre Rússia e Ucrânia, cujo efeito colateral, além das mortes e do sofrimento de milhares de famílias que precisaram se deslocar para outros países, é o desabastecimento de nações europeias, a sustentabilidade ganha um maior protagonismo em nível mundial. A reinvenção, sobretudo na matriz energética, deve ganhar adeptos e investimentos em planos alternativos podem ter protagonismo nos próximos anos.

E no Rio Grande do Sul, o que é feito?

Na onda da sustentabilidade, há uma cobrança dos consumidores sobre as marcas acerca das ações realizadas pelas empresas pela preservação do meio ambiente. A preocupação de uma fatia desses clientes sobre ações positivas, como, por exemplo, embalagens biodegradáveis ou retornáveis e preferência por itens veganos criou uma nova segmentação de público, aquele ecologicamente correto e que está atento às políticas adotadas na hora de comprar.

Cientes desse movimento, empresários gaúchos reposicionaram produtos e negócios para não perder essa fatia de clientes. Uma das mais tradicionais indústrias de bebidas do Rio Grande do Sul, a Fruki, criada em 1924 com suas humildes 200 garrafas de refrigerante produzidas por dia, hoje tem uma capacidade produtiva de 420 milhões de litros por ano, incluindo sucos, energéticos, cervejas, isotônicos e uma extensa gama de produtos.

Nova fábrica da Fruki, que está sendo erguida em Paverama

Naturalmente, essa produção em larga escala gera consequências, como uma maior demanda por água, por exemplo. Fabiola Eggers, gerente de Relações Institucionais da empresa, conta que, neste ano, a Fruki atingiu a eficiência no tratamento de efluentes de 97,80%. “Temos um índice de 1,45 litro para cada litro de bebida produzida, e a cada metro cúbico (m³) de bebida produzida, geramos 0,2 m³ de efluente. Temos orgulho de ser uma empresa socialmente responsável e ambientalmente correta”, disse.

Além disso, Fabíola explica que todos os resíduos sólidos gerados pela Fruki são destinados para empresas licenciadas poderem dar a destinação correta. Todo o material gerado no processo produtivo está sendo destinado para reciclagem. “Para mitigar o que é descartado pelos consumidores, adotamos a compensação de acordo com a política Nacional de Resíduos Sólidos, através de parceira com Associação de Logística Reversa de Embalagens”, explica. Além disso, a empresa faz a aquisição de energia elétrica pelo Mercado Livre de Energia, diminuindo o consumo de diesel dos geradores e reduzindo a emissão de C02 para a atmosfera.

Outro ramo importante é o de energia limpa. Acaba no fim do ano o período de isenção para quem instalar placas fotovoltaicas em residências, comércios e indústrias. Para quem tiver instalada a usina solar, a isenção permanecerá até 2045. No entanto, a partir de 2023, conforme lei aprovada no Congresso, haverá uma cobrança gradativa, que iniciará em 15% no ano que vem e irá até 90% em 2029.

A notícia gerou uma corrida ao mercado para providenciar os painéis solares que, apesar do preço, tem um potencial para reduzir em cerca de 80% o valor das contas de luz. O impacto dessa busca é que o Rio Grande do Sul está entre os três estados brasileiros com maior potência instalada de energia solar na geração própria em telhados e pequenos terrenos, conforme estudo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). Segundo a entidade, o território gaúcho responde sozinho por 11,1% de toda a potência instalada de energia solar na modalidade. Atualmente são cerca de 204,5 mil consumidores de energia elétrica que já contam com a tecnologia.

A CBM Lajeado, especializada no segmento elétrico, tem percebido uma mudança na visão dos seus clientes em relação à questão de energia. A preocupação em transformar eficiência em menor custo é uma das principais buscas dos consumidores na hora de escolher, conforme explica o proprietário da empresa, Marcos André Mallmann. Para ele, a mudança na legislação que trata de energia solar é vista como importante. “Nós encaramos essa mudança como sendo necessária no mercado de instalação de energia solar fotovoltaica. Como ainda a energia solar é muito recente no mercado brasileiro, por mais que já esteja há muitos anos no mercado, sempre serão necessários ajustes, principalmente, mudanças previstas na lei de regulamentação”, disse.

Marcos conta que os consumidores também têm preferido as lâmpadas de LED, consideradas totalmente sustentáveis, pois não contêm nenhum elemento poluente ou contaminante e também são ótimas para a diminuição do consumo de energia. Lâmpadas e refletores de iluminação solar para áreas externas ganharam espaço nas compras. “Temos clientes que estão muito mais exigentes sobre os produtos que querem comprar, exigindo da nossa equipe um preparo e conhecimento muito maior sobre os produtos que comercializamos”, disse o proprietário.

Já o setor de produtos de limpeza é mais um que está a se reinventar e se adaptar aos novos tempos. A gaúcha Girando Sol, com 31 anos de atuação, opera num moderno parque fabril de 22 mil metros quadrados, inaugurado em 2016 em Arroio do Meio. A sustentabilidade foi pensada desde o projeto de construção da fábrica, com a utilização de telhas transparentes e iluminação natural. O prédio também foi feito em níveis para aproveitar a transferência de líquidos por gravidade, além da coleta da água da chuva numa cisterna de capacidade de 4 milhões de litros que é utilizada em alguns processos industriais.

Gilmar Borscheid, diretor da Girando Sol

A empresa tem apostado na produção de materiais que agridem menos o meio ambiente e, com isso, ganhando terreno num mercado competitivo. Conforme o diretor da empresa, Gilmar Borscheid, desde o início do desenvolvimento dos produtos é realizada uma busca entre os insumos que causam menos impacto ao meio ambiente. “Realizamos pesquisa na legislação vigente, nas tendências dentro e fora do país a fim de que os lançamentos já estejam de acordo com o que os clientes e consumidores esperam”, afirma.

Nas mídias sociais, a empresa trabalha, de forma mais direta com o público, a questão sustentável. São apresentados os materiais recicláveis presentes nos frascos, além do selo da Eureciclo incluído nos rótulos indicando que a empresa cumpre as metas de logística reversa de embalagens.

Outra empresa gaúcha que brilha quando o tema é sustentabilidade é a BSBIOS, de Passo Fundo. Capitaneada por Erasmo Carlos Battistella, a produtora de biodiesel nasceu com o intuito de ser renovável e achar uma alternativa para combustíveis fósseis. Produzido a partir de fontes renováveis, como óleos vegetais e gorduras animais, o biodiesel pode substituir total ou em partes o óleo diesel mineral. A ideia do empresário é se tornar o maior produtor de biodiesel da América Latina até 2025.

A BSBIOS foi uma das primeiras empresas produtoras de biodiesel do país a receber a concessão do selo Biocombustível Social, por mantém estreita relação com a agricultura familiar, da qual adquire um percentual mínimo de matérias primas familiares. Na região Sul, pelo menos 40% das matérias primas devem ser adquiridas de pequenos agricultores. Por meio de parcerias desenvolve programas de culturas alternativas, com destaque aos trabalhos realizados para a cultura da canola, bem como ações de fomento e suporte à diversificação. O objetivo é que haja o fortalecimento da agricultura familiar, a partir da participação dos agricultores no programa, além de oportunizar ações de diversificação nas propriedades familiares

Conteúdo publicado na edição 55 da revista Gente que Faz

 

 



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