Sobre amigos, viagens e fotografia
Publicado em 18 de setembro de 2019Felipe Manfroi, um dos talentos da fotografia gaúcha, tem apontado suas lentes para destinos como a Patagônia, o Atacama e os Andes. Na carona, começou a levar pessoas interessadas não só em viajar, mas em aprender um pouco mais sobre a arte que ele tanto ama. Assim surgiram, no ano passado, as expedições fotográficas
Uma viagem não termina na volta para casa. Sentimentos e percepções podem seguir te levando para aquele destino durante muito tempo.
Seja ao olhar um souvenir, um ingresso, o troco de uma moeda estrangeira que ficou na carteira. Mas a viagem continua, principalmente, na fotografia. E quem não quer ter lindos registros dos lugares por onde andou? Foi pensando nisso que Felipe Manfroi, 30 anos, em parceria com o primo, o também fotógrafo Gio Manfroi, 31 anos, começou a montar expedições fotográficas pela América do Sul. O insight veio em 2015, quando os dois planejaram uma viagem de carro à Patagônia e decidiram convidar mais duas pessoas para dividir as despesas.
“Lançamos a proposta no Mochileiros (grupo no Facebook), dizendo que seria uma viagem mais roots, como se fossem amigos viajando. Tudo já organizado, mas sem gastar muito. A ideia era acampar, comprar comida no supermercado e fazer passeios gratuitos. A pessoa só precisava entrar no carro e ajudar a dividir os custos. Mais de 300 interessados entraram em contato conosco”, lembra Felipe, que se surpreendeu com a procura.
A seleção foi por afinidade com o estilo da viagem. E nessa triagem perceberam que havia muita gente interessada em uma experiência diferente e sem ter que se preocupar com a organização do roteiro. Felipe, que é sócio do estúdio Objetivo, em Lajeado, passou a se dedicar a essa atividade paralela.
No Carnaval de 2017, partiu para a primeira viagem aberta ao público, com aulas de fotografia. Entre 13 pessoas alugaram duas Kombis e fizeram a Expedição Canyons, pelas serras gaúcha e catarinense. Deu tão certo que, em julho do mesmo ano, saiu a Expedição Andina – pela Argentina, Chile e Uruguai. Viajaram com dois carros e uma van, reunindo 17 pessoas.
Desde então, já levaram mais de dez turmas, com roteiros também pela Patagônia e Deserto do Atacama. Além dos primos, outro instrutor é o fotógrafo e instagramer Guilherme Hoefelmann, 30 anos. Durante os passeios, o trio vai dando as dicas. E não é obrigatório ter uma câmera específica, porque são instruções para amadores, que podem fotografar com o celular mesmo.
“Somos três amigos, juntando pessoas que não se conhecem, para virarem amigos. É muito bom o clima das expedições, com festa, risada e música o tempo inteiro. E o mais legal disso tudo é o vínculo que as pessoas criam nas viagens”, resume Felipe.
Basta olhar as fotos dos grupos. E não tem como fugir do clichê: como disse Confúcio, “uma imagem vale mais que mil palavras”.
“Topei a Expedição Andina para me desafiar. Estava passando por mudanças na vida pessoal e acreditei que seria interessante. Achei uma loucura 16 dias de carro com um grupo que eu nunca havia visto na vida, principalmente porque não sou de me relacionar em redes sociais e não conseguia comparecer aos encontros com o pessoal. Nunca fui muito ligada em fotografia, mas meu irmão me emprestou uma câmera semi profissional e era este meu plano: aproveitar o máximo possível, independente ou apesar das pessoas. Mas esta viagem me proporcionou uma grata surpresa – muito além de constatar que antes todas as minhas fotos eram com a linha do horizonte torta – sobressaiu a amizade dos integrantes. Foi incrível a sintonia, a parceria de todos! Em alguns dias passávamos mais de 10 horas na estrada; em outros, horas admirando um pôr do sol no Chile, ou bebendo vinho em Bariloche. Depois disso me arrisquei a fazer mais viagens sozinha, economizar nas coisas certas para priorizar lugares e conhecer mais pessoas. Mas sem dúvidas o que mais me marcou foi a amizade. Foi uma experiência maravilhosa e eu não hesitaria em repetir!”
Grazielly Mauat Klein, 31 anos, assistente social, mora em Porto Alegre (na imagem, em Passo de Los Libres, divisa entre Chile e Argentina)
“A primeira viagem com os guris foi bem por acaso. Vi no Facebook sobre a Expedição Atacama e foi amor à primeira vista. Depois fiz a expedição Andina. É difícil dizer qual eu mais gostei, cada viagem é única e tem seus pontos altos. No Atacama, o ápice foi o acampamento na Cordilheira de Sal. A imensidão da via láctea, visível a olho nu, com chuva de estrelas cadentes, são lembranças que até hoje me arrancam sorrisos, suspiros e me marejam os olhos. Na Andina, percorremos uns sete mil quilômetros acompanhados de paisagens de tirar o fôlego: neve, riachos, pontes e muitas montanhas para encher os olhos. Viajar por si só já é bom, mas quando você consegue reunir ‘amigos de infância que acabou de conhecer’ fica bem melhor. Os meninos têm uma energia incrível e conseguem fazer com que a gente se sinta viajando em família. São conexões tão intensas com as pessoas que chega a ser difícil reduzir isso em palavras. E como se tudo isso não bastasse, para completar, tivemos aulas de fotografia, que de uma forma simples e leve, conseguiram nos ajudar a colocar em imagens o que guardamos com carinho no coração e na memória.”
Por Josiane Weschenfelder
Publicado na revista Gente que Faz, edição 42