Rolex: ícone lapidado com criatividade e convicção

Uma das mais aclamadas marcas de luxo do mundo, que ganha nova representação no RS, é reflexo de um visionário, Hans Wilsdorf, um verdadeiro professor na arte do empreendedorismo

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Hans Wilsdorf

Símbolo de precisão, luxo e bom gosto, a Rolex aporta em mais um ponto de representação no Rio Grande do Sul, desta vez nas vitrines da Dvoskin Kulkes, em Porto Alegre. Nas peças em exposição pode-se ver consolidada uma marca que virou um ícone. Uma trajetória que nasceu das ideias e das atitudes à frente de seu tempo e em dia com o pulso e o ritmo de sua época. Visionário por excelência, Hans Wilsdorf (1881-1960) mesclou audácia e determinação. Cartas deixadas por ele provam, em suas próprias palavras, seu foco: fazer da Rolex a única e a melhor marca de relógios do mundo.

A aventura da Rolex começou nos anos 1900. Originário da Baviera, Hans Wilsdorf vislumbrou a praticidade de usar relógios no pulso e não no bolso, como era o costume da época, sobretudo em um país esportivo como a Inglaterra e suas colônias. Determinado a criar um relógio de pulso tão robusto e confiável como o eterno relógio de bolso, decidiu botar a mão na massa e encarar o desafio. A tarefa não era fácil. Tratava-se em primeiro lugar de levar a precisão cronométrica a um grau inigualável, em uma caixa de proporções reduzidas para poder ser carregada no pulso. Ou, como declarou anos depois, “naquele momento, não apenas essa moda ainda não tinha sido adotada, como era motivo de riso, os relojoeiros de todos os países ficaram céticos, prevendo um fiasco completo do relógio de pulso.” Sua atitude, Hans Wilsdorf explicava desta forma: “A Rolex deverá sempre se esforçar em agir e enxergar diferentemente dos outros! É minha força agir dessa forma”.

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Robert Scheidt, velejador brasileiro, campeão incontestável de iatismo, bicampeão olímpico e 15 vezes campeão mundial de iatismo na classe Laser e tricampeão na classe Star, com seu Rolex

Já morando em Londres, fundou com um sócio, em 1905, a empresa Wilsdorf & Davis. Especializada na comercialização de relógios de pulso na Grã-Bretanha e em todo o império britânico, a empresa encomendava os componentes a fabricantes suíços selecionados por sua expertise. Contudo, pressentindo a importância do conceito de marca, Hans Wilsdorf queria um nome só para sua criação. Um nome curto, fácil de pronunciar em qualquer idioma, com sonoridade agradável, fácil de memorizar e que pudesse ser gravado de forma harmônica no mostrador e no mecanismo do relógio. “Eu tentava combinar as letras do alfabeto em todos os sentidos e o resultado foi que, ao cabo de algum tempo, eu tinha centenas de nomes a minha disposição, mas nenhum deles me deixava satisfeito”, relembra ele, em um discurso feito em 2 de julho de 1958, durante a comemoração dos 50 anos da marca Rolex. “Uma manhã, sentado no segundo andar do ônibus, que então ainda era puxado por cavalos, passava ao longo de Cheapside, na cidade de Londres, um gênio bom me sopra ‘Rolex’.” Alguns dias mais tarde, a marca Rolex foi depositada e oficialmente registrada na Suíça. Seguiu-se, em 1913, o depósito da marca Rolex no plano internacional. Naquela época, cada joalheiro ou relojoeiro desejava ter seu próprio nome nos mostradores e não queria que o público conhecesse o fornecedor ou o fabricante. Hans Wilsdorf, então, procedeu em etapas: “Primeiro, eu fiz colocar o nome Rolex em um relógio em cada caixa de seis, esperando que esse único relógio passaria despercebido e seria vendido mesmo apesar de seu nome. Gradualmente, eu ousei colocar o nome em duas peças, e depois, alguns anos, em três peças”, relata o precursor em seus escritos.

Em pouco tempo, Hans conseguiu o que queria. Em 1910, um relógio de pulso Rolex conquistou o primeiro certificado de cronometria jamais concedido a esse tipo de relógio pelo Bureau officiel de contrôle de la marche des montres, sediado em Biel (Suíça). Quatro anos mais tarde, em 1914, um modelo similar foi o primeiro relógio de pulso do mundo a obter, do prestigioso Kew Observatory (Grã-Bretanha), o primeiro certificado de precisão “classe A”, distinção até então reservada a cronômetros da Marinha. A conquista desses dois certificados foi a prova de que um relógio de pulso podia oferecer um alto nível de precisão cronométrica.

Hans Wilsdorf deixou a Inglaterra em 1919 para se instalar em Genebra, na Suíça, onde fundou, em 1920, a empresa Montres Rolex S.A. Mudou-se para ficar mais próximo de seu fornecedor de Biel e para adquirir, por tabela, um pouco da notoriedade internacional de Genebra, conhecida por sua longa tradição na indústria de relógios. Mas ainda restava o desafio da impermeabilidade: a precisão do relógio de pulso ficaria comprometida se a caixa não fosse capaz de proteger o mecanismo contra água e poeira. Em 1926, os esforços de Hans Wilsdorf para desenvolver um relógio impermeável foram coroados de sucesso com a invenção do Rolex Oyster, primeiro relógio de pulso impermeável no mundo. A caixa, equipada com um engenhoso sistema patenteado de rosqueamento da luneta, do fundo e da coroa, era hermeticamente fechada, garantindo proteção otimizada para o mecanismo. Para difundir sua criação, em 1927, o gênio criativo de Hans Wilsdorf resolveu submeter o Oyster a uma prova de fogo, ou melhor, de água: a jovem nadadora inglesa Mercedes Gleitze atravessou o Canal da Mancha a nado, usando um Oyster no pulso. Após mais de dez horas, o relógio alcançou a outra margem em perfeito estado. Para comemorar o resultado da experiência, Hans Wilsdorf mandou publicar no jornal Daily Mail um anúncio que ocupava toda a primeira página, proclamando o sucesso do sistema de impermeabilidade de seus relógios e “a marcha triunfal do Rolex Oyster pelo mundo”. Também nasceu aí o conceito de Embaixadores de marca, difundido mundo afora até hoje.

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Mas ainda faltava uma propriedade ao relógio Oyster: a automação. Como era preciso dar corda no relógio de pulso diariamente, o fato de a coroa ser desrosqueada comprometia a impermeabilidade, e, por conseguinte, a precisão. Para resolver esse problema, em 1931 a Rolex inventou o primeiro sistema de corda automática com rotor livre para relógios de pulso. Denominado rotor Perpetual, ele foi o precursor dos sistemas contemporâneos de corda automática.

A velocidade foi outro detalhe que não passou despercebido por Wilsdorf. E aí, as aventuras também marcaram a história da marca. Em 1935, ao volante do Bluebird e com um relógio Oyster no pulso, Sir Malcolm Campbell foi o primeiro piloto a atingir o marco simbólico de 300 milhas por hora (cerca de 480 km/h). Em 1947, o primeiro homem também usando um Oyster rompe a barreira do som ao comando de um avião foguete. Em ambos os casos, o relógio foi submetido a forte aceleração e a vibrações de extrema intensidade, suportando-as sem que suas qualidades fossem alteradas. A partir da década de 1930, o Oyster fez parte de várias expedições para as montanhas do Himalaia. Uma delas entrou para a História: em 1953, Sir Edmund Hillary e Tensing Norgay, membros de uma expedição britânica chefiada por Sir John Hunt, foram os primeiros a chegar ao pico do Everest. Com essa vitória, entraram para a lista de personalidades excepcionais que, graças a uma inabalável perseverança e à busca de grandes realizações, comprovam as qualidades que a Rolex promove acima de tudo. Tudo iniciativa de um abnegado, criativo e visionário Hans Wilsdorf, que ainda deixou de presente a receita: “É preciso ir à frente. É preciso coragem e uma vontade firme de alcançar o sucesso. E que o resultado do seu trabalho seja belo”.

Matéria publicada na edição 31 da revista Gente que Faz

Por Andréa Lopes

 

 



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