Robert Scheidt

Como segura o leme o senhor das águas e dos ventos

Se a lenda Robert Scheidt motiva, lembra que não há encanto ou conquista que não traga consigo persistência, estratégia, perseverança, foco e dedicação

Robert Scheidt veio a Porto Alegre, que lhe traz excelentes memórias e lhe guarda bons amigos, para a Copa Brasil de Vela. Aproveitamos a oportunidade de entrevistar o senhor das águas e dos ventos, o maior medalhista olímpico da história de nosso país, que aos 43 anos, ainda disputando com atletas até 20 anos mais jovens, soma 176 títulos. Nosso bate-papo transcorreu no Clube Jangadeiros, que abriu as portas de sua tradicional Escola de Vela Barra Limpa para apresentar a jovens e familiares o esporte da vela e para sediar, junto com o Veleiros do Sul, a IV Copa Brasil de Vela.

Ele, que estreia em nova classe, a 49er, agora veleja em um barco maior, mais veloz e com estratégias diferentes das classes que o consagraram no iatismo. Por isso, todos os treinos e competições são de fundamental importância. Sua concentração e determinação são perceptíveis em meio à sua cordialidade para com os jornalistas.  Compreensível, pois o velejador que sempre comenta que “não existe vento bom para quem não sabe aonde vai”, começou a velejar por influência do pai também velejador, aos sete anos, quando passava as horas de folga com a família num clube às margens da represa de Guarapiranga em São Paulo, e mesmo tendo se dedicado também ao tênis, à natação e ao atletismo, foi sua paixão pela vela que cresceu. Dois anos depois, ganhou seu primeiro barco de madeira.  Com apenas 11 anos, conquistou seu primeiro título importante, o Sul-americano da Classe Optimist, no Chile. Mas o insight de que a vela o levaria aos mais altos voos, teve quando ganhou o campeonato mundial juvenil com 18 anos. “Até aquele momento eu ainda não levava assim tanta fé, acho que sempre há um momento na carreira do atleta em que se tem a certeza de ser bom naquilo… pouca gente lembra, mas foi quando ganhei de um cara que era o superfavorito, que tinha ganho o mundial no ano anterior e isso foi muito bom para a  minha confiança”.

É casado com a também velejadora lituana Gintare Volungeviciute, com quem tem dois filhos, Eric, de 7 anos, que já veleja também, e Lucas, que comemora 4 anos agora em março. Uma parte do ano, Scheidt vive no Lago Di Garda, de 50 quilômetros, na Itália, que justamente é ponto de encontro de velejadores. Rodeado de montanhas bem altas, pela manhã traz ventos em uma direção e à tarde em outra, em região que também desperta para o windsurf, pedalar nas montanhas, montanhismo. E quando não está na vela, outros esportes lhe cativam o tempo. Scheid também pratica montain bike e natação. No Brasil, onde reside outra parte do ano, tem em alguns de seus lugares favoritos Ilhabela, onde passou muitas férias quando criança, e Búzios.

Sua carreira foi intensa, sim, mas quando o questionamos sobre um de seus momentos mais marcantes em sua carreira, apontou como momento de maior consagração a segunda medalha em Ouro olímpico em Atenas, “porque havia muita expectativa acerca de quem iria igualar o recorde de Ademar Ferreira da Silva, uma vez que na olimpíada de Sidney ninguém tinha conseguido e foi um passo grandioso”. Mas o que leva com carinho e orgulho é sempre tentar fazer o melhor, “nunca deixei nada ao acaso, sempre procurei colocar-me com as melhores chances possíveis de ganhar as competições, nunca fiz corpo mole para treinamento, se achava que houvesse algo que pudesse me dar algum tipo de vantagem, sempre busquei isso, estar e me manter à frente dos adversários, o que é o mais difícil. Ganhar um campeonato mundial todo mundo espera e quando você ganha, no ano seguinte também espera e todo mundo espera que você ganhe de novo. Se manter no topo é um esforço tremendo, tem que se reinventar, ter novas técnicas de treinamento, não se acomodar com o sucesso, isso tudo é muito difícil, então tenho muito orgulho por ter conseguido permanecer no topo durante tanto tempo”.

Ao questioná-lo sobre a olimpíada de Tóquio, em 2020, afirma que hoje seu objetivo é melhorar na classe 49er, “2017 será um ano crucial para ver se realmente o sonho olímpico é uma realidade, se teremos habilidade técnica para lutar por isso. Espero que sim, estou fazendo tudo como sempre fiz, dando o melhor de mim para isso.

Mas como motivar essa nova geração para esse esporte? Comenta que como pai de família, sua função é despertar e motivar seus filhos para o esporte, mas sem impor uma ou outra categoria. “Qualquer esporte dá um rumo, mostra para a pessoa que se ela quiser ser melhor ela tem que treinar, se dedicar, nada vem ao acaso, nada cai do céu… normalmente as pessoas gostam do sucesso, gostam de estar por cima, mas nem todo mundo gosta de trabalhar para isso”, afirma.  Lembra que as amizades no ambiente esportivo são saudáveis, são amizades que ficam para a vida inteira. “Tem esportes em equipe que são maravilhosos de se fazer, não precisa ser a vela, mas qualquer esporte. A vela tem um lado positivo, muito especial para a criança, que é a interação com a natureza, você preparar o barco, conduzi-lo de uma margem a outra, usar a força do vento, estar com o leme na mão e ditar a sua direção. Tem que se respeitar a natureza e se adaptar a ela. É preciso perder o medo e ir em frente. A juventude tem que fazer mais esporte, ser campeão depende de muitos fatores, mas o mais importante é o super rumo que o esporte dá”, encerra.

 

Fotos divulgação

Matéria publicada na edição 33 da revista Gente que Faz



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