Renato Borghetti, 30 anos de gaita

Um presente de aniversário, ganho na infância, foi o começo da trajetória de um grande músico gaúcho. O menino, que ganhou uma gaita de brinquedo quando tinha 10 anos de idade, conquistou grandes façanhas, como o primeiro Disco de Ouro da musica instrumental brasileira, e hoje se apresenta em palcos do mundo todo. Renato Borghetti, o Borghettinho, comemora 30 anos de carreira em 2014, com o olhar voltado para o futuro: hoje, um dos projetos que mais o empolga é a formação de novos gaiteiros

O começo

A gaita-ponto que o menino Renato ganhou aos 10 anos de idade foi sua companheira por algum tempo. “Não tínhamos músicos na família, mas sempre ouvíamos música regional em casa”. Por volta dos 12 anos, quando frequentava o 35 CTG com a família, passou a ser o gaiteiro da invernada artística. Depois, vieram as apresentações na churrascaria do CTG. “Com 16, 17 anos, participava dos festivais, como a Califórnia da Canção Nativa”.

Em 1984, foi lançado o primeiro disco, Gaita-Ponto. “Porto Alegre tinha apenas dois estúdios na época, que estavam sempre cheios. Então, o jeito era usar os horários da madrugada, gravando rápido, tudo de forma independente”. Renato se diverte quando lembra como pagou o fotógrafo que trabalhou com ele, na época – na verdade, fizeram um escambo: as fotos em troca de um jipe que estava meio esquecido.

A partir daí, a história é conhecida. Hoje, o artista tem uma sólida carreira no Brasil e no exterior. Tem 27 discos gravados, 3 DVD’s lançados e faz turnês regulares na Europa desde 2000. Borghettinho, com seu estilo inconfundível, mas não facilmente rotulável, conquistou fãs no Brasil e no mundo. Seu instrumental costuma transitar pela etnomusic, world music e jazz fusion, embora tenha na essência ritmos como vanerão, chote, milonga e chamamé. “Muitas vezes, a música ‘moderna’ é empurrada meio ‘goela abaixo’. E, para mim, a música mais bonita é a mais simples, a mais natural”.

Fabricando talentos

Um dos projetos que mais encanta Borghettinho é a Fábrica de Gaiteiros, que busca, há três anos, ensinar a arte da gaita para crianças e adolescente. Hoje, quatro cidades, além de Guaíba, onde o projeto começou, recebem aprendizes de gaiteiro com idade entre sete e quinze anos. Escolas de Porto Alegre, Barra do Ribeiro, Tapes e São Gabriel cedem seus espaços para aulas individuais a aproximadamente 120 alunos, no total.

“Cada escola tem um professor. E, além das aulas, os estudantes podem levar a gaita para casa, de tempos em tempos, para treinar e dividir suas descobertas com a família”. Para Renato, o maior retorno do projeto é ver a gurizada tocar. Tanto que ele se dedica até mais ao projeto do que ao estudo ou a execução do instrumento, como músico. “O mais legal de tudo é que todos aprendem, se quiserem. Não tem frustração porque não é um ambiente competitivo, como no futebol, em que raríssimas vezes a pessoa dá certo, tem sucesso. Um pai não leva o filho para aprender a tocar gaita porque quer que o aluno fique rico”. Borghettinho diz que a beleza do projeto é que o aluno se transforma em gaiteiro, mesmo que tenha dificuldades. E alguns, segundo ele, poderão se tornar profissionais no instrumento.

Mas o projeto vai além do ensino e envolve também um intenso processo de pesquisa para a produção artesanal dos instrumentos utilizados pelos alunos. A fábrica, propriamente dita, funciona em Guaíba e possui dois funcionários e dois estagiários. São usadas tecnologias de produção especialmente desenvolvidas, onde [nas quais] tudo é pesquisado por Borghettinho e sua equipe, desde a madeira ideal até o melhor tipo de material para a palheta.

O primeiro desafio, conta, foi a escolha da madeira a ser utilizada. Por conta do apoio da Celulose Riograndense ao projeto, a gaita deveria ser confeccionada com eucalipto, que não seria a madeira ideal para isso. “Mas descobrimos um eucalipto no sul da Bahia, com processo de secagem em estufas computadorizadas, que funcionou muito bem”. O projeto também tem apoio do Arte Sesc – Cultura por toda a parte, em Porto Alegre, e das prefeituras municipais, em Tapes e São Gabriel. Em Guaíba e Barra do Ribeiro, o projeto é mantido, essencialmente, com recursos do Instituto Renato Borghetti de Cultura e Música.

 

Em família

Os cinco filhos de Borghettinho se envolvem, de uma forma ou de outra, com música. Recentemente, o filho Pedro, de 18 anos, tocou violão em uma turnê pela China com o grupo de dança da mãe, a bailarina Cláudia Pereira da Costa, conhecida como Cadica. “Além da música, priorizo as atividades em família. Nenhum deles mora comigo, mas procuro sempre estar perto, ficando o máximo de tempo possível junto”.

Um dos pontos de encontro da família, nos fins de semana em que Renato não está tocando e que consegue reunir a turma, é a pousada dos seus pais, em Barra do Ribeiro. Seu Rodi, 81 anos, e Dona Alda, 84, comandam a Pousada Recanto Borghetti, que possibilita a experiência de entrar em contato com a tradição e a gastronomia gaúcha.

Segundo Borghettinho, a ideia de abrir o negócio veio por acaso. “O Sebrae estava fazendo um estudo sobre o potencial turístico da região e concluiu que o local era muito privilegiado”. A pousada pode ser acessada de barco, e a distância da Capital é pequena. A estrutura conta com oito suítes e espaço para eventos com capacidade para até 500 pessoas.

Texto Sandra Chelmicki|Fotos divulgação

Publicado na edição 18 da revista Gente que Faz



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