Quem não segue o Sig?

Considerado um dos maiores decoradores do mundo, o paulista da pequena Mirassol fez do seu nome uma marca de sofisticação, bossa e originalidade, sem imitar sequer a si mesmo: “Sig Bergamin é o único arquiteto que não copia Sig Bergamin”, escreveu Nizan Guanaes, um dos pontos cardeais da propaganda no Brasil

Todas as imagens aqui ilustradas são da casa da família Lomas, em Limeira, interior paulista, clicadas por Rômulo Fialdini, um dos grandes nomes da fotografia do país, especialmente para a Giz, em dezembro de 2016, e gentilmente cedidas à Gente que Faz

Ele costuma dizer que comeu o pão que o diabo amassou com mortadela estragada, mas bastam dois dedos de prosa para saber que esse sujeito boa praça, divertido e elegante, jamais teria tolerância a indigestões. Quando aportou na maior capital da América Latina com a cara, a coragem, um diploma de arquitetura na mão e uns poucos trocados no bolso, o menino de 20 e poucos anos oriundo da pequena Mirassol, interior paulista, sabia onde queria chegar. E chegou. Sabe como?  Sendo original da derme ao tutano. Uma característica que transborda de suas pranchetas para cada detalhe da sua vida – e se você é um dos seus quase 200 mil seguidores no Instagram, sabe do que estou falando.

Era o começo dos anos 1980 quando a alta sociedade paulistana contava com meia dúzia de decoradores de alto padrão, entre eles Germano Mariutti, Ugo di Pace e Silvia Kowarick ­­­­­– um clubinho de lulús quase impenetrável numa época pré-mídias sociais em que divulgar o próprio trabalho sem um bom pistolão era tarefa quase impossível.

Sem padrinho e sem pedigree social, mas bonitão, carismático, talentoso e empreendedor, o jovem avant-garde se ofereceu para ajudar um grupo de playboys que estava prestes a abrir uma casa noturna na cidade.  Não perderia sua grande chance na hora de negociar um cachê inusitado: permutou o projeto do badalado The Gallery (boate fundamental no high society da época) por uma mesa boca-livre que usou praticamente como escritório e ponto de encontro com as famílias mais abastadas do País – que se tornariam seus clientes, é claro. Nascia ali uma lenda com estilo inimitável – apesar das tentativas. “Sig Bergamin é o único arquiteto que não copia Sig Bergamin”, costuma brincar Nizan Guanaes, um dos papas da propaganda e do marketing dessas bandas. Não é para menos. O nome chic, rápido e cool do masterpiece se tornou praticamente uma senha de bom gosto, com uma mistura destemida de épocas, estilos, estampas e padrões que são só dele (e de ninguém mais), nesta e em outras terras. Tanto que não dá nem para contar quantos carimbos estampam o seu passaporte. Mas ele não parece nem um pouco preocupado com isso, uma vez que nunca tomou as viagens como sinônimo de status, mas sim de conhecimento, aprendizado, novas culturas e descobertas, combustíveis vitais para o seu trabalho. “A prioridade de um designer, de um arquiteto ou de qualquer outro alguém que lide com a criatividade como principal matéria-prima, deveria ser viajar. Livros são importantantes, revistas, filmes, documentários, pesquisas na internet, apuração com os amigos, também. Mas não devemos confiar apenas na informação processada, que é entregue de bandeja para nós. É fundamental correr atrás das referências, interpretá-las e absorvê-las à sua maneira, tirar suas próprias conclusões e, como eu sempre digo, ser original. Uma semana in loco desvendando qualquer lugar deste mundão afora, às vezes, pode valer mais do que três meses de pesquisa no escritório revirando papéis ou com a cara grudada na tela do computador ”, ensina.

Coreografando o dedo para cima e para baixo no seu inseparável iPad, ele vai mostrando fotos de alguns dos lugares por onde andou.   São paisagens, pontes, casas, lojas, lugares, objetos, flores, frutas, bosques, praias, artesanatos, gente de tudo quanto é credo e etnia (sempre posando sorridente ao lado do forasteiro de grandes – e penetrantes – olhos verdes).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Essa falta de limites geográficos tem tudo a ver com os métodos que adotou para a própria vida – compartilhada com o arquiteto e estilista Murilo Lomas e com os buldogues África, Ásia, América, China e Índia, seus “cãotinentes”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em suas andanças, Sig e Murilo posam com reis e rainhas, brindam com figurões da indústria fashion como Valentino e o duo Dolce & Gabanna, acontecem junto com os acontecimentos, em fatos e fotos. Juntos, curtem muito e até que postam pouco. Mas, não se iluda: entre um flash e outro, trabalham duro, muito duro. Não à toa, Sig está, de novo, na lista 2017 da revista Architectural Digest americana, a bíblia definitiva da alta decoração, que o aponta como um dos 100 profissionais mais atuantes e importantes do planteta décor.

 

Murilo, paralelamente à sua carreira de arquiteto, após anos refinando croquis e pesquisando as melhores matérias-primas e fornecedores italianos, se lançou como estilista em 2016, com direito a desfile na São Paulo Fashion Week. Um dá palpite no trabalho do outro e ambos não se desgrudam nunca. Talvez resida aí o segredo do sucesso: talento, dedicação, união e disposição. Com apego às raízes, é claro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com QG também em Nova York, Monsieur Bergamin é dono de um portfólio recheado de residenciais e corporativos, incluindo aí alguns dos destinos que batizam seus mascotes. Em 1997, lançou o livro SIG, coletânea de seus melhores projetos até então, em parceria com o fotógrafo Tuca Reinés. Já em 2003, foi a vez dos books Adoro! e Adoro o Brasil, com dicas sobre décor. Para coroar a trinca, em 2014, colocou nas livrarias o manual prático Sig Style, editado pela Toriba e com textos deste jornalista que vos escreve. Naquela época, eu, que já tivera a oportunidade de escrever sobre seu ofício tantas vezes, pude compartilhar, ao vivo e em cores, de alguns momentos que atestam a autenticidade daquilo que faz, de dentro para fora.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sem preguiça de estrada e muito menos de check-in, apesar da mansão cinematográfica de Sampa (e uma das mais fotografadas do Brasil) continuar firme, forte e à todo vapor – com eventuais atividades festeiras, inclusive, já que o casal recebe tribos sui generis que incluem de amigos quatrocentões a estrelas globais de várias gerações, de Marina Ruy Barbosa a Maitê Proença (sem falar que, nos anos dourados, Sig já hospedou até o Superman original, Christopher Reeve), de uns tempos para cá, nenhum outro lugar traduz mais o espírito de lar, doce lar para os meninos do que o charmoso endereço na bucólica Limeira, uma das cidades do apogeu do café, a pouco menos de 150 quilômetros da capital, terrinha natal do clã Lomas, onde todo mundo se sente em casa. Quem aí não quer seguir o Sig?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pedimos ao Sig, imagens preferidas de seus projetos. Aqui, algumas delas.

Por Allex Colontonio

Fotos Romulo Fialdini

Publicado na edição 35 da revista Gente que Faz



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