Juliana Sanmartin não veio ao mundo a passeio
Publicado em 24 de abril de 2018Guerreira, determinada e sabe exatamente onde quer chegar! Estamos falando da empresária gaúcha Juliana Sanmartin Ribeiro, dona das grifes Juliana Sanmartin e SanM, que têm o couro como elemento base para suas múltiplas criações. Sua história no metiê iniciou em 2011, quando de advogada (já há seis anos) partiu para o que realmente fazia seus olhos brilharem: o universo da moda
UAU! Esta é a primeira impressão ao chegarmos para a entrevista no QG da grife de Juliana, ocupando um andar inteiro muito bem localizado na capital gaúcha. Poucas palavras já nos deixam perceber que estamos diante de uma empreendedora organizada, guerreira, pé no chão, perseverante e ousada! Linda e afetuosa, também, mas absolutamente empoderada pelo conteúdo que a distingue. Sua trajetória a revela: inicialmente, a família de Juliana ficou chocada com a decisão de ela largar o Direito para se dedicar a uma área que não era de seu domínio. Mas, mesmo assim, encarou de frente o desafio e foi em busca do que queria. “Comecei com um capital de 30 mil reais” conta Juliana. Seu marido, Rafael Diehl, foi um grande incentivador, parceiro para todas as horas e pai da Rafaela Sanmartin Ribeiro Diehl, que completou 1 ano de vida.
Ela conta, com uma alegria estampada no rosto, que, com este investimento, fez um mostruário de roupas, já pensando, desde o primeiro momento, em construir um império na moda e ter uma identidade. Com ele pronto, foi para uma feira, e relembra de sua participação no Minas Trend, em Belo Horizonte.
Porém, lá, conheceu uma amiga que disse a ela que tinha de levar suas peças para São Paulo. “Topei imediatamente e, qual foi minha maior surpresa, vendi muito na feira!”
Juliana voltou e se viu com um bloco imenso de pedidos e não tinha nada, nem escritório, nem funcionário, nem material… ou seja, era só ela e um bloco de pedidos na mão que valia muito dinheiro (risos…)! “Quando mostrei para meu marido, ele me olhou e disse: ‘Meu Deus do céu…’ Tive um pedido enorme de jaquetas de píton e calças, e não sabia nem como iria entregar”, lembra ela, hoje sorrindo, mas, na época, apavorada!
Bom, o negócio foi arregaçar as mangas e se organizar para produzir e entregar. Correu atrás de pessoal, local, couro, quer dizer, de tudo. “E consegui entregar!” Por isso, ela fala sempre que aprendeu muito na prática.
“Hoje, posso dizer que somos especializados no que fazemos. Tu me dizes o que queres fazer, que eu digo se vai ou não dar certo.” Tanto a grife Juliana Sanmartin como a SANM, trabalham com mistura de materiais, mas o couro está sempre presente nas peças, ambas são leatherwear. E a identidade que ela queria em suas criações, diz, com muito orgulho, ter conseguido. “Dei personalidade às minhas peças, com o uso do couro, da mistura de textura e de cores, do conforto e do design. Hoje, só de olharem as peças que faço, as pessoas comentam que são criações minhas.”
– Qual a diferença das marcas Juliana Sanmartin e SANM?
A SANM é uma grife um pouco mais despojada, mais jovem, menos comprometida com tendência e com o fazer uma roupa comercial. Na SANM, as peças são mais inusitadas, pois dá para ousar mais.
– Onde está hoje a marca Juliana Sanmartin?
Atualmente, vendemos para mais de 80 lojas multimarcas em 15 Estados do Brasil, como Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso, entre outros, além de estarmos começando a exportar para os EUA.
– Onde a empresária Juliana Sanmartin quer chegar quando fala em construir um império na moda?
Quero vender para o mundo todo. Mas ainda estou só no começo. Recém entramos neste processo de exportação. Além disso, anseio abrir lojas em outros países, e como a empresa é um projeto para minha vida inteira, o importante é não parar. Acho que ainda temos muito o que trilhar. Atualmente, tenho 30 profissionais diretos em minha equipe, fora os indiretos e terceirizados ou por temporada. Somos um grupo muito unido e acredito que esse seja um dos segredos do sucesso. Trabalho com pessoas que pegam junto, que querem fazer acontecer. Acredito que a parte que considerava mais difícil, que foram os primeiros cinco anos, já passamos. Digo isso, pelo fato de existir uma estatística de que nos primeiros cinco anos é o período em que mais empresas fecham. Hoje, temos seis anos de atuação no mercado da moda e um bom histórico de crescimento. Aqui trabalhamos de forma muito séria, não brinco em serviço, faço o negócio andar, pois sou muito perfeccionista e dedicada.
– E a sede da empresa, seguirá em Porto Alegre?
Sim, temos o DNA gaúcho e seguiremos com nossa sede aqui. No futuro, não descartamos a possibilidade de morar no exterior, mas, quanto ao “QG” da empresa, o plano é que fique em Porto Alegre.
– E tuas coleções, de onde vem a inspiração?
Minhas coleções se renovam a cada semestre, e, neste tempo, vejo muita coisa. Para mim, a inspiração não vem de algo em especial. Pode vir até de uma almofada cuja cor amo e o bordado… A partir de uma boa ideia desenvolvo todo o resto. É um processo rico no qual todas as pessoas se envolvem.
– E o Brasil, o que esperar dele?
Vejo que está melhorando, dado que em outros tempos a impunidade corria solta. Hoje, pelo menos alguma coisa está sendo feita. Acho que uma limpa geral leva tempo. Porém, o que me desmotiva no Brasil é a questão tributária. Pago hoje quase 30% do que faturo só de impostos, o que me sai caríssimo.
Outro fator que atrapalha por demais o trabalho no Brasil é ver a falta de seriedade de alguns, de gente imitando nosso produto, sem ter criado nada, vendendo de sacola, sem nota fiscal e sem pagar tributo nenhum para o governo, o que se configura numa concorrência desleal. Pois, quando a concorrência existe de forma honesta, é muito sadia. Faz a gente se superar, querendo sempre fazer o melhor. Mesmo assim, ainda acredito em nosso País, porque, do contrário, não se faz nada!
Fotos Fábio Martins e divulgação
Por Andréa da Silva Spalding
Publicado na edição 39 da revista Gente que Faz