Erasmo Battistella, líder na produção do biodiesel


Com planos ambiciosos e uma pauta voltada à sustentabilidade, empresário galga espaço no cenário internacional e aumenta o debate acerca das energias renováveis

Erasmo Battistella

A pandemia de coronavírus, iniciada há dois anos, e os recentes conflitos entre Rússia e Ucrânia criaram uma necessidade ainda mais imediata no debate acerca de energias renováveis. Medidas globais, como Acordo de Paris, documento assinado por diversos países para frear a emissão de gases poluentes e controlar o aumento gradativo da temperatura do planeta fazem parte da criação de alternativas para a locomoção mundial, que caminhava em passos pouco ágeis. Os dois eventos citados criaram um ambiente de tensão, sobretudo pela forte oscilação de commodities importantes, como o petróleo – cuja a Rússia detém uma fatia de cerca de 12% do mercado global.

Sol, ar e água são alguns dos elementos já encontrados pelos países para a produção enérgica alternativa. Os painéis fotovoltaicos, carros elétricos, parques eólicos e as hidrelétricas começam a se tornar uma realidade quase irreversível, principalmente no Brasil. No entanto, uma outra vertente pujante do nosso país, o agronegócio, pode trazer uma possibilidade tão rentável quanto – e com resultados semelhantes: o biodiesel.

Feito com base na extração de óleos vegetais, de gorduras animais ou de óleo de reaproveitamento de frituras, o combustível já faz parte de 10% da composição do que é vendido nos postos em todo o Brasil. O biodiesel é criado a partir do óleo retirado das plantas, que é misturado com metanol e, posteriormente, passa pelo processo de filtragem. Atualmente, cerca de 70% da produção brasileira do biocombustível é realizada com óleo de soja, mas podem ser utilizadas outras espécies, como o girassol, algodão, palma e canola.

Um dos principais produtores do biodiesel no Brasil é gaúcho. Nascido na pequena cidade de Itatiba do Sul, no norte gaúcho, com pouco mais de 3,4 mil habitantes, Erasmo Carlos Battistella aposta suas fichas na entrada do biocombustível com mais força no mercado brasileiro, além de mirar parcerias com países estrangeiros para a exportação. Há 18 anos nesse ramo de energias renováveis, o empresário é dono da BSBIOS. Fundada em 2005 em Passo Fundo, tem uma unidade no Paraná e outra na Suíça – recentemente, o grupo também anunciou a construção de uma planta industrial no Paraguai.

Com a produção do biodiesel, as empresas de Erasmo Battistella têm um faturamento que ultrapassa US$ 1 bilhão anuais. O projeto no Paraguai vai tornar o gaúcho o maior produtor desse biocombustível em toda a América Latina, e ajudará ele a seguir no seu objetivo, que é se tornar, até 2030, o terceiro maior do setor em escala mundial. Boa parte da futura produção da planta paraguaia, inclusive, já está negociada com grandes empresas.

O empresário vê o momento com grande otimismo, sobretudo pela escalada na procura por alternativas a partir de uma produção menor de petróleo, desacelerada desde o crescimento da pandemia na escala global, em 2020. “Tenho orgulho de dizer que o biodiesel é um patrimônio nacional. Na última década, um dos mais relevantes resultados que conquistamos foi o crescimento do mercado. Há exatos 10 anos, quando a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) foi fundada, tínhamos 5% de mistura mínima ao diesel. Transcorridos todos esses anos, triplicamos esse mercado com um marco regulatório aprovado que estabelece 15% de mistura em 2023. Esses números se traduzem em um ar melhor para as nossas cidades e em mais emprego e desenvolvimento no campo”, disse Battistella.

A menor circulação de pessoas, o ritmo desajustado das indústrias e a redução em reservas petrolíferas fez com que os principais países detentores dessa commodity tirassem o pé do acelerador. O resultado foi um impacto global no preço dos combustíveis, agravado pelo conflito entre russos e ucranianos, cujas sanções fizeram o barril de petróleo disparar e chegar na casa de US$ 130. “Ainda é muito cedo para avaliarmos o impacto dessa catastrófica situação no processo de transição energética, mas a pauta energética se mostra cada vez mais importante no cenário global. Na minha avaliação, a transição energética utilizando novas fontes vai acelerar em função desse conflito”, explicou o empresário.

Como o Brasil pode se tornar pioneiro na pauta de energias renováveis

O Brasil pode se tornar um dos principais atores na pauta de biocombustíveis no mundo. Segundo um levantamento feito pelo Ministério de Minas e Energia, realizado no ano passado, quase metade da energia produzida no Brasil vem de fontes renováveis. A maior parte é produzida em usinas hidrelétricas, mas nos últimos anos a geração de energia eólica, produzida pelo vento, e a solar vêm ganhando destaques.

De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a energia eólica representa 10,9% da matriz elétrica brasileira e a expectativa é que chegue a 13,6% ao fim de 2025. Os maiores parques estão na região Nordeste. Já a energia solar vem ganhando popularidade, sobretudo com a instalação em propriedades privadas com pequenas usinas solares, capazes de auto sustentar o local e ainda gerar excedente, levado através da rede elétrica para outras casas e estabelecimentos comerciais. Atualmente, cerca de 3% do que é produzido nacionalmente vem do sol.

É nesse sentido que entra o biodiesel. Dependente das vias terrestres para o escoamento da produção e do trânsito de mercadorias, o uso do combustível fóssil deve ser gradativamente substituído pelo renovável. Erasmo Battistella vê a necessidade de uma discussão em âmbito nacional para incentivar a chegada de meios menos poluentes aos veículos pesados. “Há uma série marcos regulatórios em discussão no Congresso que vão dar sustentação ao crescimento do setor. Já está clara a viabilidade da transição energética baseada na adoção em larga escala do biodiesel e dos biocombustíveis avançados em detrimento dos outros combustíveis tradicionais de matriz fóssil. O produto é mais do que uma energia renovável, é um vetor de desenvolvimento e não podemos perder isso de vista neste momento estratégico que o cenário internacional apresenta”, afirma.

O empresário gaúcho vê que o país pode se tornar uma espécie de “Oriente Médio verde”, ou seja, referência na produção do combustível renovável, tal qual a região reconhecida pela questão do petróleo atualmente. Segundo ele, a presença do RS no agronegócio é a chance de impulsionar mais um mercado e da criação de empregos em um ramo cujo crescimento deve se acentuar nos próximos anos. “O Rio Grande do Sul tem as principais produtoras de biodiesel localizadas aqui, sendo o Estado que mais produz biodiesel no país”, avalia.

Para ele, o processo de descarbonização – redução da emissão de gás carbônico (CO2) na atmosfera – precisa ser discutido de forma mais ampla e o mais rápido possível. Em novembro do ano passado, na COP26, realizada em Glasgow, na Escócia, líderes da indústria colocaram o Brasil como possível protagonista na pauta, tanto para evitar a presença dos poluentes como na oferta de uma biodiversidade em produtos. A ideia é, até 2030, reduzir pela metade a emissão de carbono, e eliminá-la por completo até 2050. “Esse novo compromisso é uma sinalização de que o governo quer focar a nova economia verde com fortalecimento do consumo de biocombustíveis por meio do RenovaBio. E, para o Brasil, é uma ótima oportunidade por suas características naturais”, disse Battistella.

Por  João Carlos Dienstmann – Publicado na edição 53 da revista Gente que Faz



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