As Patricia (s) – a Parenza e a Pontalti – estão na idade que podem tudo

Duas Patrícias fazem frente a uma cultura que já deveria estar superada, mas segue presente, impactando a vida de mulheres maduras. Patrícia Parenza, 52 anos, e Patrícia Pontalti, 49 anos, sobem o tom nas suas redes sociais para desconstruir o etarismo

 

E com muita propriedade: afinal, elas são a maior prova de que mulheres com 50+ tudo podem. Patrícia Parenza é jornalista e influenciadora digital e Patrícia Pontalti é jornalista e produtora de conteúdo. Atentas ao que ocorre ao seu redor, mas também ao que ganha dimensão global, elas entenderam que não dava para continuar admitindo uma sociedade que privilegia a juventude e a beleza, e que considera o envelhecimento um problema.

Muito bem resolvidas com os seus “enta”, elas decidiram iniciar um combate ao etarismo cada uma à sua maneira. Além disso, uniram o discurso e criaram o O Papo das Patis, um bate-papo nas redes sociais em que falam sobre o tanto de vida que existe na maturidade.

“Esse movimento nas redes sociais, das mulheres de 50 anos, 60 anos, está sendo muito libertador. A gente está ligando o dane-se para qualquer norma antiga que não faz mais sentido sobre o que vestir, como se comportar, com quem sair, com quem namorar. Isso acabou! Mulher não tem prazo de validade. Estamos provando que somos sexys, criativas, competentes, que nos reinventamos”, sentencia Patrícia Parenza.


“O MAIS GRAVE É QUE A PRIMEIRA A JULGAR UMA MULHER É OUTRA MULHER.”

Patrícia Parenza


 

Patrícia Parenza

Mas como esse papo de maturidade começou?

 

Acostumada a usar os meios digitais para falar sobre moda, Patrícia Parenza, que foi modelo, deu uma virada de chave quando entrou no climatério, aos 46 anos.

“Eu levei um susto: ainda me sentia extremamente jovem, tinha recém me separado, estava de namorado novo, curtindo a vida, e minha menstruação parou de vir. Aí eu me toquei que estava entrando na menopausa e percebi o quanto ela é difícil de lidar, porque é um grande tabu e ninguém fala sobre isso. Eu pensei: se eu falar sobre menopausa, será mais ou menos como colocar um outdoor na minha cabeça dizendo ‘Estou velha’. Mas decidi, mesmo assim, falar sobre isso”, conta.

Hoje, com quase 180 mil seguidores no Instagram, ela assegura que essa relação com a meia idade está sendo muito tranquila. “Como eu falo muito sobre isso, acabo colocando para fora as minhas neuras. Inclusive, o meu lema é ‘Envelhecer sem pirar’.”

Para a outra Pati, Patrícia Pontalti, o início da fala sobre maturidade foi uma questão muito pessoal: “Acho que a gente sente na pele, né? Me vi mãe com quase 40 anos, o que para muitas pessoas ainda é motivo de surpresa, e em uma relação, na época, com um homem 14 anos mais jovem, que é o pai da minha filha. Comecei a sentir olhares bastante críticos e percebi que eram em relação à idade com a qual fiz minhas escolhas. Além da questão pessoal, tem o próprio meio. A gente vai vivendo e percebendo isso, que mulheres deveriam se tornar menos mulheres a partir de determinada idade, o que é um absurdo.”

Hoje, Pontalti afirma que se sente bem compartilhando a sua experiência com a maturidade com mais mulheres e podendo transmitir o que tem aprendido ao longo do caminho. Está no climatério e fazendo reposição hormonal, o que minimiza os sintomas e torna essa fase bem mais confortável. Também está muito atenta à saúde, pensando na longevidade. Mantém uma dieta equilibrada, corre diariamente e pratica musculação quatro vezes por semana. “Sinto uma vivacidade maravilhosa. Meu corpo, por eu começar a me cuidar a partir dos 40 anos, nunca esteve tão em forma e ágil”, assegura.


“Na maturidade, o amor é com mais tranquilidade, mas não com menos paixão.”

Patrícia Pontalti,

que namora o jornalista, escritor e compositor Nelson Motta


 

 

Patrícia Pontalti

 

E por que esse papo é tão necessário?

Para Parenza falar de maturidade é fundamental para que se mudem certos conceitos. “A gente vive num país onde a juventude significa beleza. Enquanto a gente não dissociar a juventude da beleza e enquanto não conseguir enxergar beleza também numa mulher de meia idade, a gente vai continuar a perpetuar que todas nós devemos estar sempre jovens. E isso é uma coisa horrível, é uma escravidão, uma ditadura.”
Para ela, o Brasil tem um modo de pensar americanizado. Logo, é cultural aqui, como nos EUA, imaginar que é preciso fazer cirurgias estéticas para manter uma falsa juventude. “O corpo é considerado um capital no Brasil: quanto mais bonita, mais jovem e mais magra você for, mais você vale, e essa pressão, que a gente sofre desde criança, é um horror.”
Parenza assinala que o mais grave é que a primeira a julgar uma mulher é outra mulher. “Nós somos muito cruéis com nós mesmas”, avalia. Para ela, isso tem levado a exageros, como pensar que é proibido envelhecer de forma natural. As pessoas ficam assustadas, por exemplo, quando uma mulher de 50 anos está grisalha e não faz botox. “Hoje as harmonizações faciais estão transformando as pessoas em outras pessoas. Eu não julgo a mulher que faz isso, porque ela faz pressionada por uma sociedade que cobra a juventude eterna. Então não é culpa dela, é culpa da sociedade”, destaca Parenza, defensora dos tratamentos de beleza, mas com equilíbrio.

No ponto de vista de Pontalti, o Brasil é um expoente dessa valorização da juventude, do corpo, da beleza e dos procedimentos estéticos, mas essa não deixa de ser uma cultura global. “Basta observar o cinema internacional, quando mulheres com menos de 30 interpretam mulheres que deveriam ter 50 – e as atrizes de 50 geralmente ficam renegadas ao papel de avôs sem qualquer sensualidade. Sofremos porque existe um padrão que diz que uma mulher tem tal corpo, tal cor, tal cabelo e tal idade. Temos muito a mudar, mas estamos batalhando para isso.”

Além de todas essas questões que atingem especialmente a autoconfiança e a autoestima das mulheres maduras, outra questão que preocupa ambas as Patis é o mercado de trabalho, que exclui mulheres de meia idade. “Esbarramos em muitas questões práticas, como o mercado de trabalho, que ainda não enxerga o valor de uma profissional madura”, afirma Pontalti.

 

Enamoradas de si, em primeiro lugar

Patrícia Parenza e Patrícia Pontalti afirmam que falar sobre maturidade trouxe uma aceitação libertadora. Amando a si mesmas em primeiro lugar, elas também se sentiram muito mais prontas para viver novos relacionamentos.

Parenza, depois de dois casamentos – ela tem um filho de 15 anos do segundo relacionamento -, namora o publicitário Marcelo Pires há pouco mais de dois anos. Já Pontalti se separou há pouco tempo do segundo casamento – tem a filha Clara – e, há seis meses, namora o jornalista, compositor, escritor e produtor Nelson Motta. Como vão estas relações?

“É um relacionamento muito tranquilo, maduro, sem joguinho, sem ter que provar nada. Moramos em casas separadas porque privilegio muito meu espaço, meu silêncio, meu tempo. Além disso, faz a gente sentir saudade.”
Para Pontalti, a relação também vai muito bem a distância. Ela afirma que está revivendo a sensação gostosa de sentir borboletas no estômago. “Na maturidade, o amor é com mais tranquilidade, mas não com menos paixão.”
Enamoradas e donas de si, elas amam e são amadas. E não é isso que realmente importa na meia idade e em qualquer idade?

Velhofobia

Em setembro do ano passado, a antropóloga Mirian Goldenberg, referência nos estudos sobre gênero e envelhecimento e autora, entre outros livros, de A Bela Velhice, escreveu uma coluna em que afirma que, em mais de 30 anos de pesquisas, chegou à triste conclusão: as próprias mulheres reforçam e fortalecem os preconceitos relacionados à maturidade feminina.

Confira um trecho da coluna, em que ela destaca duas lições de velhofobia:

Você não se enxerga sua velha ridícula?

Fui comprar uma calça jeans de uma grife famosa e uma vendedora bem jovem me tratou com total desprezo. Ela me olhou dos pés à cabeça como se dissesse: “Você não se enxerga sua velha ridícula? Não quero a etiqueta da minha loja desfilando na bunda murcha e caída de uma velha baranga”. Saí de lá arrasada, apesar de, na época, só ter 40 anos.

 Primeira lição de velhofobia: As mulheres mais jovens reforçam os estigmas e preconceitos contra as mulheres maduras. Nós mesmas reforçamos as nossas prisões.


Por que você fica tão feliz de parecer mais jovem?

Na Alemanha, em 2007, após a minha palestra na Universidade Livre de Berlim, uma socióloga me perguntou: “Por que você fica tão feliz de parecer mais jovem? Por que considera um elogio parecer ser o que você não é mais? É infantil essa postura de depender do olhar e da aprovação dos outros. Você mesma é que deve se sentir bonita e atraente”.

Foi como um tapa na minha cara. Percebi que eu sempre respondia à pergunta “Quantos anos você tem?” com “Quantos anos você acha que eu tenho?”. Aos 50 anos, ficava eufórica quando os mais mentirosos diziam que eu parecia ter 38. Quanto mais mentiam, mais feliz eu ficava.

Segunda lição de velhofobia: Dizer que pareço mais jovem não é um elogio, mas uma forma de desqualificar e deslegitimar a beleza da mulher madura.

 

Conteúdo publicado na edição57 da revista Gente que Faz | Por Fernanda Mallmann|Fotos Divulgação



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