A história da família Pizzato no Vale dos Vinhedos

Com a identidade dos imigrantes italianos, que se instalaram na região para buscar uma nova vida, a jovem vinícola da Serra Gaúcha se destaca pela produção quase artesanal, feita a muitas mãos – e todas do mesmo sangue

A chegada dos imigrantes italianos ao Rio Grande do Sul, sobretudo na região da Serra Gaúcha, deixou na nossa cultura uma identidade única daquele povo. O início difícil foi revertido com trabalho, esmero, união e, principalmente, o manejo de cultivos cujo os quais nós, gaúchos, incorporamos sem cerimônia. Se hoje somos reconhecidos como produtores de vinhos e espumantes premiados em todas as partes do mundo, pelas uvas de qualidade acima da média e pela culinária farta – quem não gosta de uma mesa típica da Itália? – é por causa deles.

A família Pizzato é uma dessas representantes do que há de bom na região e no Estado. Estabelecida com a vinícola, situada em Bento Gonçalves, os descendentes de Pietro e Antônio Pizzato, os primeiros de seus nomes a pisarem em solo gaúcho por volta de 1880 levam o nome à frente dos rótulos de bebidas apreciadas não apenas no Brasil, mas no exterior. Criada em 1999, a Pizzato Vinhas e Vinhos se estabeleceu como uma das principais na produção artesanal das bebidas e conseguiu rever um cenário que parecia de más notícias durante a pandemia para se manter forte no mercado.

Plantar para sobreviver

O enólogo da vinícola e responsável pela parte técnica da produção é Flávio, quinto da linhagem Pizzato a seguir com os planos da família na região. Ao lado dos irmãos Flávia, Jane e Ivo e dos pais, Plínio e Diva, são os responsáveis por fomentar o sonho antigo de transformar a produção da fruta em bebidas. Ele conta que, quando seu tataravô, Pietro chegou até a região, vindo da Europa, buscava ter uma nova perspectiva de vida, uma mudança. Trazia na bagagem a fé de conseguir esse objetivo e, além disso, a experiência com a uva.

Sem dinheiro e com a necessidade de encontrar alternativas, a primeira ideia foi arrendar terras para o cultivo. Inicialmente, sem a pretensão de produzir bebidas, a busca incessante de Pietro, era por uma uva de qualidade, com doçura, que pudesse atrair compradores e seduzir pelo sabor. Posteriormente, já na década de 1920, segundo conta Flávio, tentaram transformar em suco, mas sem sucesso. A tecnologia os ajudou a tirar os planos do papel somente alguns anos depois. “A bebida que criaram chegou a ficar famosa na cidade, pois era fortificante. Até os médicos da região recomendavam”, brinca.

A chegada de multinacionais nas cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa despertaram uma corrida pela vitivinicultura. Giovanni, avô de Flávio, foi um dos primeiros a plantar uvas finas, exceção da região naquele período. A qualidade chamou a atenção de empresas de renome, que passaram a ter como um dos principais fornecedores a família Pizzato, voltada somente aos frutos. Na década de 1990, um dos desejos do seu Plínio, o pai, e dos filhos mais velhos começou a ser traduzir em realidade. Inicialmente voltado ao consumo próprio, os primeiros vinhos oriundos das terras serranas foram produzidos. Com uma boa avaliação, em seguida a vinícola foi lançada e, em 2000, a remessa pioneira de vinhos merlot da marca foi para o mercado, já com boas avaliações. “Tivemos a sorte de lançarmos nosso produto juntamente com um dos primeiros guias voltados aos vinhos e espumantes do Brasil. Na oportunidade, fomos reconhecidos como os melhores do Brasil com o merlot, considerando todos os tipos de bebidas, como espumantes e vinhos brancos selecionados”, contra Flávio.

De ponta a ponta, a família está envolvida

Flávio Pizzato

Consolidado o modelo de negócio a partir do sucesso inicial e com a fabricação a todo o vapor, o fato de manter a família engajada no projeto se tornou um caminho sem volta. Flávio conta que todos os membros da Pizzato tiveram contato com a produção de uva e de bebidas desde o século XIX, pois era uma forma deles conseguirem o sustento e, ao mesmo tempo, manterem o contato entre eles. Esse cuidado, que torna o produto quase artesanal, pelo processo se tornar mais rigoroso para agradar aos paladares, é um dos segredos da jovem vinícola gaúcha.

Para o enólogo, ter um membro da família em cada ponto do negócio é fundamental para o atual sucesso da Pizzato Vinhas e Vinhos. “Assim como eu cuido da parte técnica, meus irmãos ficam na área administrativa, de marketing, comercial, enfim, há um de nós desde o parreiral até o momento de fechar a caixa com os produtos. Isso é um diferencial nosso”, diz Flávio. Ele conta que o pai já poderia ter deixado a prática para descansar, mas também se envolve, seja na produção ou nas visitas de turistas, ao apresentar a história dos parreirais e mostrar a qualidade da produção local. “O vinho é um produto familiar. Isso nos faz pensar também a longo prazo, com um critério diferente. Não queremos nada para ontem, e sim algo qualificado e que nos represente”, explica.

Um outro viés para fortificar a presença não só da Pizzato, mas de outras vinícolas da Serra, segundo Flávio, é a união. Por conta da criação Denominação de Origem, uma espécie de marca registrada para tudo que é produzido em determinada região do Brasil, dada ao Vale dos Vinhedos para os espumantes e vinhos produzidos lá – algo valioso quando se trata de credibilidade das bebidas – as empresas da região se juntaram para extrair o melhor delas e, consequentemente, criar um padrão para tornar a bebida com a identidade local. Esse movimento, segundo Flávio, também ajuda a erguer todas as vinícolas, das maiores às menores. “Somos competidores, mas dividimos o conhecimento. Um novo tipo de uva que pode ser plantado, técnicas avançadas, isso qualifica e reconhece o trabalho feito aqui”, afirma.

A pandemia como oportunidade de negócio

Nem o mais otimista empresário do ramo de bebidas poderia imaginar que a pandemia se tornaria uma oportunidade de negócios. Com o fechamento de bares, restaurantes e restrições aos turistas, a fonte de renda das empresas do setor se viu comprometida. No entanto, notou-se uma mudança de comportamento dos consumidores. Estudo feito pela Ideal Consulting mostrou que a média de consumo de vinhos e espumantes, entre janeiro e junho, subiu de 2,13 em 2019 para 2,37 em 2020, alta de 11%. Cerca de 200 milhões de litros foram vendidos no período, alta superior a 27% se comparado ao mesmo período.

A Pizzato surfou nessa onda, após um mês de abril cujo resultado parecia catastrófico, segundo Flávio. Para ele, diversos fatores resultaram em bons números – a elevação nas vendas foi de 40%. “O dólar mais caro freou o consumo de rótulos importados, encarecidos nos mercados. Além disso, a safra brasileira foi muito boa e isso despertou a atenção dos clientes mais exigentes. O produto nacional ficou em maior evidência e beneficiou as empresas locais”, contextualiza.

Próximo de uma nova vindima, época na qual é realizada a colheita da safra, Flávio tem a expectativa de ver um novo bom resultado. Com a maturação dos grãos em estágio avançado, a meta agora é torcer para o clima ajudar e garantir a qualidade. “Tivemos perdas nas uvas brancas, por causa da geada tardia, mas as tintas estão indo muito bem. Agora, faremos o controle até meados de dezembro para garantir uma uva excelente para os nossos vinhos”.


Como visitar a Pizzato Vinhas e Vinhos

ONDE: Via dos Parreirais, S/N, Vale dos Vinhedos, Bento Gonçalves.

QUANDO: Todos os dias, das 10h às 17h.

COMO: É possível fazer reservas, através do telefone (54) 3055-0440. Há a possibilidade de degustação dos vinhos e espumantes e harmonização com queijos gaúchos, charcutaria, além de degustações verticais.


 



Tags relacionadas

Comente



Compartilhe!







POSTS RECENTES

Image

Um cenário de sonhos para um casamento inesquecível em Barcelona

Com 105  anos de tradição, esta histórica propriedade propõe conforto, privacidade e serviços personalizados para  esses momentos especiais em um endereço que inspira paixão e celebração, em uma das cidades mais românticas da Europa A capital da Catalunha, na Espanha, é um dos destinos mais românticos da Europa. Nesse  cenário, o Majestic Hotel & Spa Barcelona acolhe […]

LEIA MAIS
Image

Em Porto Alegre, encontro com os hoteis mais incríveis do mundo

Com encontros B2B no Brasil e na Argentina, o evento reuniu em mais um ano agentes de viagens, hotéis Leading e imprensa especializada A The Leading Hotels of the World realizou novamente este ano seu South America Showcase Series, neste ano com a presença de mais de 30 hotéis de luxo de 10 países. Gerentes e diretores divulgaram […]

LEIA MAIS
Image

Cerejeiras em Flor, no Japão. Quando ir?

Visitar o Japão durante a época de florescimento das cerejeiras, conhecida como “Sakura”, é uma experiência que captura não apenas a beleza estonteante da natureza, mas também a essência profunda da cultura japonesa. A melhor época para testemunhar este espetáculo varia de acordo com a região, mas geralmente ocorre entre o final de março e […]

LEIA MAIS