Luís Fernando Verissimo fala
Publicado em 14 de setembro de 2017“Susto tomei quando me contaram depois”
Luis Fernando Verissimo fala sobre o problema de saúde que teve no início deste 2013, a exposição em sua homenagem e a paixão pela neta. “Sou um avô clássico, um escravo agradecido”
“Ah, não, ele não!”, bradavam seus leitores e admiradores nas redes sociais quando Luis Fernando Verissimo, 76 anos, foi internado, em março, com uma gripe fortíssima, em Porto Alegre. O susto foi grande naquele momento. Para os outros. “Na verdade, o único que não se preocupou com o meu estado quase terminal foi eu mesmo, porque passei todo o tempo meio fora do ar”, relata o acamado. “O susto veio depois, quando me contaram o que tinha havido.” Mais Luis Fernando Verissimo, impossível.
Recuperado e ainda preferindo as injeções às entrevistas, apesar da temporada no hospital, o escritor recebe homenagem no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, em Porto Alegre, com a mostra fotográfica Luis Fernando Muitoverdadeiro, com fotos captadas pela amiga Dulce Helfer, e a exposição Luis Fernando Humoríssimo: uma homenagem por cima dos panos, com 19 telas em tapeçaria (leia mais no box). “A exposição das tapeçarias está muito simpática”, resume. “Não tenho um gosto especial por homenagens, mas elas são sempre bem intencionadas e carinhosas.”
Verissimo também é homenageado, de forma meio torta, com as diversas citações creditadas a ele nos Facebooks e Twitters – a maioria, falsa. “Pelo que eu sei, é impossível evitar que alguém ponha um texto na Internet e assine com o nome que quiser, ou retirar da rede um texto apócrifo. Já que não há o que fazer, resta a resignação”, comenta. Luis Fernando parece ser assim, não dá pelota para disse-me-disse. Gosta mesmo é de dedicar seu tempo a ler vários livros juntos, ou trechos de livros. “No momento estou lendo um livro de ensaios do John Barth e o último Le Carre. Dos amigos, um que tenho lido com prazer é o Milton Hatoum. E era grande admirador do Moacyr Scliar”, enumera, com uma ponta de saudade. A música faz parte de sua vida desde sempre, em casa ou tocando sax na banda Jazz 6. “Ouço jazz e música popular brasileira, e um pouco de música clássica, quando tenho tempo. E o Jazz 6 continua. Recentemente perdemos o Adão Pinheiro, nosso pianista, grande talento e grande companheiro, mas vamos em frente. Nos reunimos para ensaiar com menos frequência do que seria recomendável, acabamos acertando as coisas, e às vezes não acertando, durante as apresentações.” Em casa há outro músico, Pedro Verissimo, o filho. “Ele tem boa voz e algumas composições ótimas. Gosto do que ele faz, mas frequentamos praias musicais diferentes”, pondera.
Família é o chão de Luis Fernando Verissimo, que curte agora as delícias de ser avô de Lucinda, filha de Fernanda. “Acho que sou um avô clássico, um escravo agradecido da neta”, resume, babão. De seu pai, o clássico Erico Verissimo, Luis Fernando lembra como um homem decente e afetuoso, cuja maior lição foi a de não se levar muito a sério. Afeto transmitido de geração em geração na família Verissimo. “Nossos filhos são pessoas solidárias, amigos entre si e amigos dos seus amigos. Gosto de pensar que aprenderam isto conosco.” Alguma dúvida?
Sob o olhar de Dulce Helfer
Todas as imagens aqui apresentadas foram clicadas por Dulce Helfer e integraram a exposição Luis Fernando Muitoverdadeiro, que esteve em cartaz no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, em Porto Alegre
Dulce Helfer nutre amizade pela família Verissimo há cerca de 30 anos. Seu vasto material fotográfico sobre Luis Fernando levou os organizadores da mostra em homenagem ao autor a chamarem Dulce a participar da festa. “Muita coisa naturalmente ficou de fora, mas há diversos momentos na mostra, ele com amigos, tocando…”, conta amiga e ‘fanzoca’ declarada, como se autointitula. Foi uma oportunidade de apreciar momentos especiais e particulares de Verissimo e de conferir, por tabela, a sensibilidade da fotógrafa nascida em Santa Cruz do Sul e que fez carreira de 27 anos no Jornal Zero Hora, em Porto Alegre, sobretudo travando uma relação especial com personalidades da cultura brasileira. “Sempre tratei todo mundo da mesma maneira”, conta Dulce, justificando a afinidade com gente como Chico Buarque, Caetano Veloso e o eterno poeta Mario Quintana. “Nunca fiz distinção com ninguém, a não ser pelo caráter.” Sua sinceridade, simpatia e despojamento encantam fotografados e colegas há anos.
Dulce pensava em ser bailarina ou veterinária, amante que é, até hoje, de dança e animais. Mas aos 16 anos começou a namorar um fotógrafo, tomou gosto pela coisa, ganhou concurso no colégio, e não parou mais. Ainda em Santa Cruz, trabalhou nos jornais Gazeta e Rio Vale e depois veio para Porto Alegre, onde participou da fundação do jornal O Continente, ao lado de Tabajara Ruas e Carlos Urbim. Em 27 anos de Zero Hora circulou nos meios sociais, econômicos, pelas ruas da cidade, clicando os mais variados shows, peças teatrais, espetáculos de dança. O olhar atento não para de descobrir novidades onde os desavisados mal passam. Recentemente acabou de produzir as imagens que vão compor um livro sobre a cidade de Gravataí, localizada na região metropolitana da capital gaúcha. “Eu postava umas fotos no meu facebook e as pessoas perguntavam se era a Amazônia”, diverte-se, ainda incrédula. “Mesmo os moradores de Gravataí não acreditam quando veem as fotos. A região tem recantos muito bonitos. “São casarões tombados, alambiques, o rio Gravataí, lindo e limpo. “Há muito que descobrir por lá”, conta. Agora ela empenha-se em conseguir o patrocínio para a publicação do livro (alô, empresariado!). Depois do trabalho, Dulce, que mora desde sempre no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, refugia-se em sua casa, encravada em uma rua calma, no meio do balada. “Lá eu tenho pátio, plantei árvores, os passarinhos vêm no pátio, é uma delícia.”
Por Andréa Lopes| Fotos Dulce Helfer
Textos publicados na edição 15 da revista Gente que Faz