Mazah, te mete!

 

 

Jair Kobe reinventa o humor gaudério com seu Guri de Uruguaiana. Ele lota teatros – incluindo o templo da dramaturgia, o Theatro São Pedro – e computa milhares de views na internet com coreografias em dia com o que ocorre no mundo pop

Terminada a catastrófica luta do UFC entre Anderson Silva e o americano Chris Weidman, o Guri de Uruguaiana manifestou-se no You Tube, com toda a propriedade, no minuto seguinte. “Mas tou aqui até essa hora para ver o Anderson perder o cinturão? Mas bah, tchê… Agora, fica tranquilo, Spider, porque eu vou atrás desse cinturão, vou trazer o cinturão de volta para o Brasil, para o Rio Grande. Vou em busca do cinturão perdido! Vê aí o meu vídeo de treinamento e te borra todo!” E entra o Guri Balboa, paródia ao personagem Rocky Balboa, eternizado no cinema por Silvester Stallone nos anos 1980. O Guri de Uruguaiana é assim, em cima do lance. Ou melhor, seu criador, o humorista, ator, cantor, músico e empresário Jair Kobe – sim, ele joga nas onze e ainda corre para a torcida que vem lotando os teatros gaúchos para vê-lo entoar o tradicionalíssimo “Canto Alegretense”, de Bagre e Nico Fagundes, no ritmo de Michael Jackson, Michel Teló, Village People e Naldo.

“Para valer a pena tem que ser assim, na hora do fato. Internet pede rapidez, não dá para pestanejar. Se deixássemos para publicar o vídeo no You Tube no dia seguinte, ou na segunda-feira, também seria legal, mas não teria o mesmo impacto”, ensina ele, para quem o suor da camiseta é fundamental para o talento artístico ganhar corpo, ganhar o mundo. Ele é seu próprio empresário, auxiliado por uma equipe de cerca de 30 pessoas que inclui a mulher, Silvia Helena – só ficam de fora, por enquanto, as filhas do casal, Rafaela, 14 anos, e Júlia, 10. Sílvia virou produtora e anjo da guarda, vem acompanhando o marido e não tem absolutamente nada a ver com a Silvia Helena do Guri de Uruguaiana. “A nega veia do Guri é tão gorda que ele levou três meses para achar o piercing no umbigo dela”, entrega Kobe.  Sílvia, a verdadeira, está casada com Jair há 27 anos, cuida dos negócios e da família, dividindo-se entre a produção e a atenção às filhas. Jair também faz questão de reservar o verão para passar um mês só com a família. Em breve, a turma toda vai fazer uma viagem à Europa. “Estar longe da família para mim é difícil. Procuro sempre não ficar muito tempo fora e, quando posso, procuro viajar com as gurias.” A parte mais chata da carreira, garante, é a administração. “É complicado para o artista cuidar de sua própria carreira. No meu caso, como eu praticamente reinventei minha carreira com o Guri, mas já tinha uma estrada boa, fica um pouco mais fácil. Mas é cansativo e chato”, admite.

E essa estrada já é bem longa. Jair Kobe nasceu em 6 de setembro de 1959, em Porto Alegre – sim, ele é, na verdade, um guri da Capital. Aos 16 anos, começou a aprender violão com o mestre Mário Barros. Participou do Grupo Gaiola, como compositor no Festival Vindima da Canção, do Grupo Rebenque, com o qual venceu vários festivais e gravou o disco Som Grande do Sul, e do Coral de Câmara do Rio Grande do Sul, como tenor. Em 1981, em parceria com Fernando Cardoso, Kobe fundou o grupo vocal Canto Livre, que levou um novo estilo nativista de cantar e de se apresentar para o País, participando dos grandes festivais de música no Estado e do Festival dos Festivais, da Rede Globo, em 1985. Com a música “Esse Gaiteiro”, composta em parceira com Cardoso e Sérgio Napp, chegaram à semifinal do certame, com Renato Borghetti tocando gaita na apresentação final – o vencedor foi “Escrito nas Estrelas”, com Tetê Espíndola, quem lembra?

Depois do Canto Livre, Jair Kobe enveredou pela publicidade, produziu jingles, teve confecção e loja de vestuário… Mas a arte falou mais alto e, em 2001, resolveu reunir alguns personagens que apresentava nas festas de amigos e família em um espetáculo, “Seriamente Cômico”, produzido por Flávio Bicca e apresentado no Teatro do IPE. “Eu mostrava meus personagens e as pessoas adoravam. Resolvi profissionalizar a coisa e ver no que ia dar”, conta. Entre os personagens, havia o mágico Sergay Baitabishovsky, o Baiano, o Brega Maurício Ronaldo e o Gaúcho, um jovem que havia saído de Uruguaiana para estudar no Exterior e que voltava meio diferente para visitar os pais nas férias. “O pai pedia para ele cantar ‘aquela música do César Passarinho’. O nome da música era ‘Guri’, daí veio o novo nome do personagem, que batizei para participar de um quadro sobre a previsão do tempo do Paulo Borges na RBSTV”, relata. A estreia no teatro veio em 2008, no Porto Verão Alegre.

Jair Kobe entre Luís Fernando Veríssimo e Eva Sopher

Aí, Jair Kobe praticamente viu sua vida mudar – e fez mudar as vidas de algumas pessoas também. “O mais bacana é ver gente e que nunca foi a um teatro ir para assistir ao Guri”, emociona-se. “Imagina, gente que nunca tinha pisado no Theatro São Pedro, foi pela primeira vez para ver o Guri no palco.” E ele ganhou o mês de maio para apresentar seu Guri de Uruguaiana na casa capitaneada por Dona Eva Sopher – a exemplo do que Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky fazem com “Tangos & Tragédias”, no mês de janeiro, há 26 anos. Outra situação que Jair adora é ver na plateia famílias inteiras reunidas para ver seu personagem. “Vai o pai, a mãe, o filho menor, a filha adolescente com o namorado, a vó e o vô. É bárbaro de ver. E é uma honra poder atingir pessoas de gerações diferentes, gostos diferentes.”

Texto Andrea Lopes|Fotos divulgação e Tiago Trindade

Publicado na edição 16 da revista Gente que Faz



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