Simone Leite, uma mulher à frente da Federasul

 

Simone Leite lamenta ainda ter que valorizar o fato de um ser humano do sexo feminino ocupar a presidência de uma entidade em pleno 2016 e propõe ouvidos mais atentos aos clamores do interior do Estado

13/04/2016 - Porto Alegre, RS - FEDERASUL - AGO - (AssemblŽia  Geral Ordinaria). Simone Leite Ž a nova presidente da Federasul para o beinio 2016 - 2018. Foto: Itamar Aguiar/Agencia Freelancer.

 Foto: Itamar Aguiar/Agencia Freelancer

 

 Na ampla sala da presidência da Federasul, Simone Leite recebe quem chega com abraço e chimarrão. “É o meu companheiro, começo de manhã e só termino à noite”, entrega a moça, recém-empossada nova presidente da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul. “Adoro viajar sozinha e ir tomando meu chimarrão, ouvindo música, notícias ou simplesmente ficar em silêncio. É uma terapia para mim.” Eleita para a gestão 2016/2018, Simone lamenta ainda ter que falar sobre sua condição de mulher à frente de uma das entidades mais representativas do Estado. “Mas vivemos em um Estado muito machista e essa questão ainda vem à baila. Não há como fugir dela. Por isso, preciso ressaltar a importância de uma mulher estar ocupando esse espaço. Também tive a oportunidade de ser a primeira mulher a ocupar a presidência da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Canoas, quando a entidade completou 74 anos de história. E Canoas também é uma cidade machista, onde a indústria é muito forte, lá os homens acabam tendo uma expressão maior também. Por isso é tão importante ainda falar em uma mulher na presidência de uma entidade como a Federasul”, justifica. E reafirma sua convicção de que é preciso ouvir mais o interior do Estado. “Passeio os últimos quatro anos viajando pelo Rio Grande do Sul, onde estive em contato com os líderes empresariais de todas as regiões. O poder político está na Capital, mas a força econômica vem do Interior. E foi esse trabalho de base com o Interior, junto a associações e a federações, que acabou me trazendo à presidência da Federasul”, reconhece.

A calmaria do chimarrão realmente fica restrita às viagens, já que Simone Leite não para – nem é de seu feitio. Nascida em Estância Velha em 1977, ela iniciou sua carreira como professora de história, lecionando por seis anos em escola pública. “Deixei de ser professora pela dificuldade em me manter com o baixo salário da profissão”, confessa. Aos 18, a cidade natal ficou pequena. Mudou-se para Novo Hamburgo, onde cursou Administração na Universidade Feevale. Na mesma época, filiou-se ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Já empresária, transferiu-se para Canoas, onde acabou secretária de Desenvolvimento Econômico, entre 2009 e 2011, a convite do prefeito Jairo Jorge (PT). Em 2012 foi a vez da vice-prefeita de Canoas, Beth Colombo, convidá-la para se filiar ao Partido Progressista (PP), partido pelo qual concorreu ao Senado, em 2014 – e do qual segue filiada. Também foi vice-presidente da regional Vale do Sinos da Federasul e vice-presidente de Integração da entidade que agora preside, além de administrar a empresa Urano, que produz balanças eletrônicas. Sua personalidade de líder chamou a atenção a partir do movimento Chega de Mordida, pelo fim da cobrança diferenciada do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para produtos adquiridos fora do Estado e revendidos no varejo local. O imposto segue sendo cobrado, mas… “Quero entregar resultados efetivos para a sociedade, em relação a impostos cobrados, a esta carga tributária insana, que provoca o sufocamento das atividades produtivas no Estado, a toda a burocracia que emperra o empreendedorismo. E não é a Simone Leite que está dizendo isso, que venceu as eleições da Federasul. É um grupo de pessoas que está apostando, comigo, em um trabalho de entrega de resultados. Essa é a principal característica feminina que deve ser reforçada aqui, uma forma de fazer as coisas com paixão, com dedicação, que as pessoas se aproximam e veem que há um grupo para trabalhar.”

Ela pretende dar ênfase a projetos como o Pertencer, que trata da garantia da sustentabilidade financeira das CICS, cuja associação é feita por livre adesão, valorizando seu trabalho. Com os Núcleos Setoriais, Simone quer dar maior visibilidade para setores da produção a partir da constituição de grupos de jovens empresários, de mulheres empresárias e de outros ramos para fortalecer a cadeia da produção. “O que move o país é o empreendedorismo. Um país não existe sem desenvolvimento econômico e social. Se não fortalecermos isso, a geração de riqueza, capital e trabalho, não alcançaremos o desenvolvimento social e econômico”, sentencia. Junto ao movimento empresarial, Simone Leite pretende buscar as demandas regionais do Estado, unindo-as em um único pleito estadual, “para que todos os empresários estejam falando a mesma língua”. Com unhas e dentes, defende a parceria público-privada. “O setor público tem que ter a ideia e fazer a gestão. O privado, executar”, acredita.

20/04/2016 - PORTO ALEGRE, RS -  Simone Leite,

Falando em setor público… Simone avalia que só reformas na política, na previdência e nas tributações garantirão a reorganização do Brasil. “Vivemos uma crise política e ética sem precedentes. Precisamos passar por mudanças para voltarmos a acreditar, a termos confiança, para retomarmos os investimentos. O governo já arrecada muito, gasta mal e ainda gasta mais do que arrecada.” Apesar do cenário, ela se diz otimista. “O pior, para mim, está passando. Precisamos ser criativos, fazermos mais com menos, não nos desesperarmos e trabalharmos juntos, com serenidade e fé em dias melhores.” Ex-candidata ao Senado, ela não descarta concorrer em um novo pleito – vale lembrar o Rio Grande do Sul já teve dois vice-governadores que foram presidentes da Federasul, Paulo Feijó, no governo Yeda Crusius, e o atual, José Paulo Cairoli. “Só através da política partidária é possível fazer as transformações necessárias. Quem ocupa um cargo público é quem assina e faz valer. Como lideranças, à frente de entidades como a Federasul, podemos influenciar, mas não temos a caneta”, reconhece. “Minha campanha ao Senado me trouxe uma experiência ímpar, sobretudo ao participar de debates com políticos como Pedro Simon, Olívio Dutra e Ana Amélia Lemos.” Ela defende que não haja reeleição. “Assim permitiríamos que mais pessoas assumissem os cargos, dando segmento ao trabalho já feito ou melhorando-o com transformações.” Ela segue filiada ao PP. Diz não ter, por enquanto, planos de voltar a concorrer. “Mas mentiria para mim mesma e para as pessoas se dissesse que nunca mais me candidataria. O futuro é dinâmico. Nunca me imaginei à frente da Federasul e aqui estou.”

Casada, mãe de dois meninos, Simone Leite busca diariamente conciliar o trabalho com a família. “Eu delego, não sou centralizadora, confio. Tenho pessoas de confiança que me ajudam na empresa, em casa, na Federasul. Meus filhos e meu marido já estão acostumados e acabam participando bastante. Gostamos de passar os finais de semana em Gramado e, mesmo que eu tenha algum compromisso na Serra, cumpro a agenda e sempre retorno para curtir com eles. Todas as conquistas que tive seriam impossíveis sem o apoio da minha família.” Motivação para ser mãe, esposa, dona de casa, presidente da Federasul, empresária, ela garante que não falta, pelo contrário. “Isso é vida.”

Matéria publicada na edição 29 da revista Gente que Faz

Por Andréa Lopes

Fotos divulgação



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