O grande salto de Marcel

Coragem e determinação definem o patinador que foi além de seu sonho de infância e conquistou o recorde de atleta brasileiro com mais medalhas Pan-americanas

Com um sorriso cativante, simpatia e simplicidade, além de um talento inegável sobre os patins, Marcel Stürmer chegou ao ponto que nenhum atleta brasileiro conseguiu. Aos 29 anos, poucos dias antes de completar 30, o lajeadense bateu o recorde de medalhista Pan-americano ao vencer a competição em Toronto. A medalha junta-se às demais, conquistas em Santo Domingo (2003), Rio de Janeiro (2007), e Guadalajara (2011).

Aos sete anos, após vencer sua primeira competição, prometeu que conquistaria um título mundial. Não imaginava tudo o que precisaria passar para atingir sua meta, mas não desistiu. “Foi muito importante desde o começo eu saber onde queria chegar. Esse é o caminho. Eu percebo por outros quesitos da minha vida, que às vezes eu vou decidindo no caminho.” Com esforço, chegou onde almejava.

As metas sempre foram claras e a constância tornou o atleta perfeccionista. Ensaia até a exaustão, para não ser surpreendido pelo inesperado durante as competições. Nos treinos, vai além do que o técnico acha necessário. “Isso dá segurança. Porque nesse momento geralmente eu estou muito cansado e eu gosto da sensação de pensar que se eu consegui fazer isso no Brasil, extremamente cansado, na competição não tem como dar errado.”

Na trajetória repleta de desafios, a coragem foi sua companheira. “Eu sempre fui muito corajoso. Poderia estar morrendo de medo, mas encarava.” Com 16 anos, já classificado para o Pan em Santo Domingo, foi convidado a treinar nos Estados Unidos, onde passou dois anos com a estrutura necessária para a formação de um campeão. Sempre teve a determinação de vencer e não teve dúvidas de suas escolhas.

O quarto ouro

Marcel queria ter certeza que venceria e fez o necessário para bater o recorde. “Vencer é uma coisa, bater um recorde é outra. Isso não depende só do atleta, depende também do momento.” Em 2015, sua meta era possível. Como não sabia se no próximo Pan alguém já teria se tornado recordista deu tudo de si. Poucos atletas têm a chance de atingir este feito. Percebeu que era um momento que poderia entrar para a história ou passaria a vida inteira pensando nisso.

O preparo para o Pan é intenso. Ao sair da pista em Guadalajara já focou na competição de Toronto. As apresentações exigem equilíbrio. Os atletas são treinados para não pensar muito nos instantes antes de entrar para o show. Limitam-se a planejar aos saltos e a parte técnica a ser desenvolvida. “No programa curto, no primeiro dia, foi assim. Na final eu não estava tão concentrado quanto eu consigo ficar.”

Parou na beira da quadra e lembrou do trajeto dos últimos quatro anos e que tudo dependia dos minutos seguintes. Mas, independente do quão nervoso estivesse, quando ouviu a música, o único pensamento que teve foi de que, independente da emoção, aquele era o momento do ataque.

Visual arrojado

Marcel participou de todos os detalhes da apresentação. Além do desenvolvimento da coreografia, participou da escolha da trilha sonora e da roupa. Optou por um figurino que imitasse uma camisa e um jeans. “Eu queria algo diferente do tradicional. Inclusive a roupa da competição final teria um suspensório vermelho, que era espetacular, o destaque da roupa. Só que ele me atrapalhava para patinar.” Depois de algumas tentativas de adaptação, o acessório foi tirado.

O figurino do programa curto, inspirado na roupa de batalha dos personagens do filme Jogos Vorazes, apesar de ser muito elaborado e ter dado muito trabalho para quem o confeccionou, funcionou já na primeira tentativa.

Conquista merecida

Ao conquistar a medalha, emocionou-se recordando dos desafios do início da carreira. “Eu treinava no colégio onde estudava. Com o tempo aquela pista ficou pequena para meus treinos, então eu fui para a do salão da igreja. Eu passava o fim de semana lá. Eu não tive infância nem adolescência por causa disso, porque eu queria as medalhas.” A vontade de tornar o sonho realidade, era maior que as dificuldades. “Eu queria conhecer o mundo, pessoas interessantes, ir além do que me foi apresentado. E eu sabia que aquele era o meio e talvez eu não teria outra chance.”

Seu maior orgulho é o fato de um atleta da patinação ter batido um recorde. “Fui eu, um patinador, não um jogador de futebol, ou de um esporte que tenha mais apoio. Só consegui isso por causa do treinamento desde criança, por querer muito e pela constância, que fez com que eu ganhasse quatro medalhas seguidas.” A série de vitórias reflete seu esforço e determinação.

A carreira segue

O Pan-americano de 2015 foi o último de Marcel. “O evento tem um ciclo de quatro anos e eu não tenho a ideia de competir todo esse tempo.” Orgulha-se de encerrar a trajetória no Pan fazendo história. Mas o lajeadense ama patinar, e ainda pretende competir bastante. “Claro que cada vez com um calendário seleto, competições mega especiais, que envolvem meus patrocinadores.” Escolherá algumas apresentações por ano, para se preparar com mais calma.

Quando parar de competir, planeja iniciar uma carreira artística. Pretende fazer shows e realizar turnês. “Deixar as pistas é algo que eu vejo muito distante. Elas nunca vão me deixar. Hoje em dia o meio de trabalho permite ser mais de uma coisa, há uma flexibilidade.” O patinador estuda marketing e teve duas experiências com TV. Cobriu as Olimpíadas pela Record e depois com Globo. “Eu já tive experiências muito interessantes.”

Talento e esforço

A patinação é um esporte difícil e técnico. Marcel explica que, para aprender, são necessárias muitas repetições. “É um trabalho tão difícil quanto qualquer outro. Eu atingi os índices, bati recordes e ganhei medalhas de ouro.” As vitórias garantiram patrocinadores como a Patins Rye, Ulbra, Prefeitura de Lajeado e, no caso do Pan, o Comitê Olímpico.

Mas seu primeiro patrocínio veio só quando tinha 18 anos e já era campeão Pan-americano. “É muito tempo para quem começou com seis anos e foi campeão com 18. Na época, eu era o atleta mais jovem da história. É difícil passar todo esse tempo sem apoio.” Recebia ajuda de amigos e familiares e de sua primeira treinadora.

Para alcançar o sucesso afirma ser essencial saber onde quer chegar, ser ciente de que aparecerão pedras no caminho, mas que elas podem ser puladas e é possível deixar isso de lado. “As dificuldades aparecem quando desviamos o olhar do foco. O que mais dificulta é o que as pessoas dizem. Muitos têm dificuldade de ser positivo com quem sonha mais que eles, de ver as coisas de um caminho diferente.” Marcel é a prova de que se existe um caminho e um sonho, é porque é possível fazer acontecer.

Pati Leivas – Quem olha o corpo esculpido do atleta não consegue imaginar o quão “forte” ele é. O Marcel tem muito mais do que músculos e técnica, o amor pelo esporte e a intenção de fazer sempre, tudo com excelência, faz dele um esportista ímpar. É apaixonante fazer parte da rotina de treinos e ver a dedicação que ele tem em tudo que faz. Os amigos só ganham com isso pois, como amigo, ele também é campeão!

Jaqueline Nonnenmacher – Marcel é um exemplo de atleta, indivíduo e ser humano, por sua dedicação, disciplina, respeito aos demais e humildade sempre! Quem o conhece verdadeiramente também conhece bem sua história de superação e determinação, não desistindo jamais de seus sonhos! É um verdadeiro Campeão!

Léo Bengochea – O Marcel é um cara que usa da disciplina e força de vontade pra conquistar tudo aquilo que ele deseja. Isso, aliado a todas as vivências que tivemos nestes 23 anos, faz com que ele seja meu aluno e um grande amigo!

Por Douglas Petry

Fotos Tiago Trindade

Publicado na edição 25 da revista Gente que Faz

 



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