Mendoza : ‘Tiene que vivir el lugar’

‘Tiene que vivir el lugar’ – Parte 1

Juan Tonconogy, Casa de Uco

Era uma bela manhã de segunda-feira, que para três amigas iniciou superlativa. Era o segundo dia do voo da Azul da capital gaúcha para Córdoba, às 11h55. Um pouco depois das 18h já estaríamos na bela Mendoza, para cumprir um roteiro incrível de sabor, de tintos e brancos de alta gama e melhor do que isso, celebrando um elo que nos une há décadas, a amizade!

Uma noite em Mendoza antes do nosso roteiro de, literalmente, prazer aos goles se iniciar. Chegamos ao icônico Park Hyatt Mendoza, sempre elegante e distinto, e já estávamos sendo aguardadas pela atenciosa Luciana Cerrutti, à frente de sua Ketek, agência de turismo receptivo especializada em roteiros de vinhos na Argentina e reconhecida pela Great Wine Capitals Global Network.

As sete regiões gastronômicas da Argentina em um compêndio

-Siete Cocinas-

Nossa primeira experiência gastronômica já estava agendada e lá fomos nós estar com o chef Pablo del Río, que reabriu as portas de seu Siete Cocinas, espaço que existia antes de seu Zampa (mais jovem e casual) inaugurar.  Ambas as propostas agora se complementam em dois espaços, um ao lado do outro, na casa histórica e charmosa, que já conhecíamos, muito próxima ao Park Hyatt. Escolhemos o lugar pela gastronomia e pelo conceito, representar as sete regiões gastronômicas da Argentina e levá-las à mesa em um prato. Estamos falando de uma cozinha feita com simplicidade, produto e técnica. Chef Pablo fez um compêndio de seu menu e nos surpreendeu harmonizando seus pratos que incluíam truta patagônica, salsichas caseiras, bife de chorizo, pimentões do norte e batatas andinas – numa verdadeira amostra da cultura do país -, com espumante rose Colonia Las Liebres e vinho Altos Las Hormigas malbec.

http://sietecocinas.com.ar/

Conduzidas pelo poeta Virgílio e sua musa Beatriz ao Inferno, Purgatório e Paraíso

-El Enemigo-

No dia seguinte, iniciamos nosso roteiro rumo ao Vale do Uco, mas com um almoço super estratégico no caminho, na El Enemigo, cujo enólogo – Alejandro Vigil – os jornais argentinos anunciam como o “Messi dos vinhos”. Em sua bodega, recriou a Divina Comédia, de Dante Alighieri. Como na obra-prima de Dante, o passeio pela vinícola e pelas adegas de conservação do vinho são um convite a atravessar os reinos além-túmulo, começando pelo inferno, depois o purgatório e, finalmente, o paraíso.  Como resultado de sua criatividade e ousadia, tem seus El Enemigo(s) premiadíssimos, o que não chega a surpreender, pois Vigil é, há 15 anos, enólogo da gigante Catena Zapata.

Na El Enemigo, em parceria com Adrianna Catena, filha de Nicolás Catena, a aposta de Vigil é investir menos na maturação dos vinhos em madeira e explorar mais as riquezas do solo da região de Mendoza. Tanto que um dos pontos altos da degustação é provar vinhos feitos à base da mesma uva, a Cabernet Franc, mas que foram plantadas em diferentes terrenos.

Após a visita, outra arte apreciamos, degustando uma seleção de seus melhores vinhos e em seguida harmonizando-os com pratos ricos em sabor de outro paraíso que nos tenta, a cozinha. É uma oportunidade singular, você visita a bodega, almoça com vinhos sensacionais e ainda, quem sabe, encontra o popstar do vinho na Argentina e o mestre dos solos, vide que Alejandro, engenheiro agrônomo, reside no complexo com sua família. Trouxemos conosco uma das frases mais emblemáticas de autoria de Vigil: “Meus medos e inseguranças foram, muitas vezes, meus maiores inimigos e, quase sempre, um convite a ousar”.

Bodega e Restaurante El Enemigo

Há visitas guiadas e degustações às 9h30, 11h30, 15h30 e 16h30 de segunda-feira a sábados. Aos domingos, 9h30 e 11h30. As degustações variam de 305 a 1470 pesos.  O almoço é composto de três passos e custa 880 pesos por pessoa. Não inclui vinhos e pode ser acompanhado pelas degustações.

Para jantares com um menu de 6 passos incluindo a degustação de 7 vinhos, o restaurante abre nas quartas, quintas e sextas-feiras, com reserva prévia. O custo é de 2.800 pesos por pessoa ou 1.900 pesos por pessoa quando há mais de 6 convidados

https://www.facebook.com/casaElEnemigo/

A gigante Salentein

De novo no caminho rumo ao Vale do Uco. Ah, só mais uma parada antes do, destino final, afinal essa empresa gigante, com processos de vinificação bem organizados e de qualidade, com microvinificação ou fermentação em barrica de madeira, que produz 5 milhões de litros de vinho por ano, é obrigatória. Em função do tempo, aceleramos nossa visita, mas reconheço ser imperdível incluir a Galeria Kilka, anexa, com exposições de arte fantásticas, na visitação.

Não há como não se impressionar com sua arquitetura simétrica e sua construção em forma de cruz. O espaço da mítica adega circular com a rosa dos ventos, para onde convergem as 4 alas, lembra um anfiteatro, inclusive com um piano ao centro. A rosa dos ventos simboliza a relação da adega com o restante do mundo e todas as pedras utilizadas para composição foram retiradas do Valle de Uco para mostrar que “temos os olhos para o mundo, mas os pés em nossa terra”, conforme nosso guia.

A Salentein foi pioneira no Vale do Uco e hoje o grupo (incluindo as bodegas Callia e Pyros) responde por 23 milhões de garrafas por ano. O nome da casa é reservado para os rótulos premium, como as linhas Numina, Primus e o top VU. No Brasil, a Salentein é representada pela Zahil, e, no RS, pela Milésime.

http://www.bodegasalentein.com

Enfim, o epicentro do Vale do Uco

Foi mágico, parecia cinema, foi inacreditável. Os picos nevados da Cordilheira dos Andes espreitam Mendoza como uma sentinela e nosso destino estava justamente ao pé dos Andes, num Vale que desabrocha e impressiona cada vez mais brasileiros, americanos e europeus, visitantes ou investidores. No Vale do Uco, que dista em torno de 100km de Mendoza, pipocam empreendimentos, há diferentes modalidades de passeios, você pode visitar, hospedar-se, degustar ou produzir seu próprio vinho, aprender, descansar, cavalgar, ter aulas de gastronomia. Enfim, eu diria, com muita precisão, que o Vale do Uco lhe quer para aqui ficar por, no mínimo, três dias.

As montanhas e as belas paisagens do vale de Uco aguçam nossos sentidos para os aromas e sabores dos seus vinhos de altitude (aqui estão localizados os vinhedos mais altos do mundo). Rodeado por uma paisagem impressionante do vulcão Tupungato,  você apreciará o prestígio do que aqui é engarrafado, vinhos de alta gama ou premium.  A região é formada por 3 municípios, Tupungato, Tunuyan e San Carlos,  e mais 30 bodegas ou vinícolas atendem o turista, todas com visitas guiadas e algumas com restaurantes e hospedagem nos vinhedos.

O Vale de Uco passou a ser imprescindível numa visita a Mendoza e o mundo compreendeu seu potencial. Vamos aos investimentos? Um pouco antes de percorrer a longa alameda ao destino mais paradisíaco que poderíamos desejar, bem em frente aos portões da Casa de Uco, contaram-nos que o irlandês Bono Vox adquiriu a propriedade.

E seguimos, encantadas com a paisagem fascinante aos portões que se abriram aos nossos próximos três dias, bem aos pés da Cordilheira dos Andes e de suas montanhas que seriam nossa constante até mesmo da janela gigante envidraçada do quarto.

Como chegar

Ousamos e viajamos no segundo dia do voo da Azul da capital gaúcha para Córdoba, com passagens emitidas pela Mug Viagens. Ousamos porque de Córdoba para Mendoza voamos de Aerolíneas e não podíamos perder a conexão (que eram em tempo perfeito). Se tudo desse certo, seria uma delícia, porque em 6 horas lá estaríamos (o que geralmente nos demanda uma noite inteira e muitas vezes hospedagem em Buenos Aires). Match point! E como deu certo!!!



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