Maira Caleffi e a luta cor de rosa

Se outubro ficou conhecido como o mês rosa, muito disto se deve à médica Maira Caleffi. Realizadora de um trabalho exemplar e inspirador na luta contra o câncer de mama, é presidente voluntária do Imama e Femama, no qual é mentora e organizadora, trabalhando com equipes multidisciplinares na conquista de direitos da saúde da mulher. A mastologista e chefe do serviço de mastologia do hospital Moinhos de Vento, ainda atua no projeto de apoio ao paciente no Núcleo Mamam Moinhos de Vento

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Desenvolve a área profissional e graças ao seu dia a dia, quando continua atendendo e operando dezenas de pacientes diariamente, consegue desenvolver novos profissionais na área, envolvendo-se com residência médica, numa luta para ter cada vez mais profissionais com sua mentalidade de trabalho. Faz questão de ser acessível a qualquer tipo de paciente e deseja que cada vez mais médicos tenham isso como filosofia, para as pessoas terem mais possibilidade de serem cuidadas.

Com garra e perseverança está engajada no Outubro Rosa desde 2007, quando foi convidada de honra em um lançamento da campanha na Casa Branca. Desde lá, é incansável na busca pela conquista de direitos à saúde e fala com orgulho das conquistas que fazem a diferença no mundo.

Como se deu o teu engajamento com o Outubro Rosa?

Fui convidada para participar de um lançamento da campanha na Casa Branca, em 2007, como uma representante de militantes da causa no Ocidente. Fomos eu e uma representante da Arábia Saudita, de uma ONG semelhante à Femama. Quem nos convidou foi a primeira dama dos EUA na época, Laura Bush. Desde então venho me envolvendo no Outubro Rosa.

Vimos que não bastaria a iluminação de monumentos para obter resultados. Em Porto Alegre, já fazíamos a Caminhada das Vitoriosas, com o Instituto da Mama do Rio Grande do Sul. Já na época chamávamos as mulheres que passam pelo diagnóstico do câncer de vitoriosas. Tê-las conosco, aderindo ao movimento, e toda questão da campanha, transformaram a iniciativa em ações e projetos para que tenham um impacto nas políticas públicas referentes ao câncer de mama.

Desde então, quais foram as iniciativas realizadas em torno da causa?

Promovemos audiências públicas e cada vez mais vemos que há uma unidade de todas as pessoas que lutam tanto pelo acesso ao diagnóstico precoce, quanto ao tratamento. Este é o primeiro ano que haverão caminhadas em todo o Brasil. São 12 capitais, além de cidades do interior que aderiram ao chamamento da Femama com a marca “#AcessoJá”. Chamamos atenção a três pontos: informação para conscientizar, diagnóstico rápido, e a tratamentos adequados.

Na questão do tratamento, ainda enfrentamos dificuldades, como o SUS não prove alguns tipos ou o plano de saúde acha que deve ser diferente. Precisamos acatar mais os protocolos médicos e evidências científicas e discutir menos burocracia. As pessoas têm direito à saúde

E quais foram as conquistas neste período?

Nessa trajetória já aprovamos muitas leis, como a da mamografia aos 40 anos pelo SUS; a dos 60 Dias, que assegura o primeiro tratamento neste período; a mais recente delas é da reconstrução imediata, que foi aprovada em 2013. Ainda temos muitos projetos de leis, como a dos 30 Dias, que garante à pessoa o acesso ao diagnóstico em 30 dias. Só não tivemos ainda a visibilidade e mobilização social suficientes para colocá-los em pauta.

Não se fala mais em auto exame, mas em autoconhecimento. Qual a importância disso?

É questão de conscientização. Não se fala mais em auto exame, porque exame quem faz são os médicos. Nós falamos em autoconhecimento do corpo, que as mulheres se olhem, apalpem, se conheçam. Elas precisam ir em busca de um médico, posto de saúde, ginecologista, em alguns casos até irem direto ao mastologista. É importante que busque apoio, além de ter os exames de rotina sempre em dia, desde o momento que começa a ter relações sexuais. A partir dos 40 dias, a mamografia também deve virar rotina.

Assim como a mulher deve se conscientizar de que é importante cuidar do corpo, é essencial que as pessoas ao seu redor também estejam, principalmente seus parceiros. Acredita que a sociedade em si esteja mais informados sobre o assunto? O foco de campanhas como o Outubro Rosa é esse, ir além de uma conscientização exclusivamente feminina?

Com certeza. A causa precisa da sociedade como um todo. Além das pacientes, familiares, crianças, pais. Hoje o câncer de mama não tem mais limite de idade ou condição sócio-econômica. Todas as pessoas podem ser afetadas por ele, inclusive o homem. O Rio Grande do Sul é um dos lugares da América Latina, junto à Argentina, Rio de Janeiro e Uruguai, com mais casos de câncer de mama. Por isso é tão importante todos lutarmos pelo direito do diagnóstico precoce, isso é muito importante.

Quais foram os avanços nos últimos anos no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama?

O diagnóstico precoce continua sendo feito pela mamografia, e é essencial que haja conscientização tanto das mulheres quanto dos médicos. Já pode-se fazer tratamentos cirúrgicos conservadores, que não precisam da retirada da mama, extraindo apenas a fatia comprometida, mas pra isso precisa ser pequeno e descoberto cedo.

Os tratamentos com drogas inovadoras nos permitem fazer algo bem personalizado, com casos cada vez mais estudados, sendo reformulado a cada fase da doença. Por isso é tão importante termos acesso à tecnologia. Os estudos genéticos que conseguimos fazer levando em consideração a família e os tumores são ótimos. Mas os serviços de saúde ainda não estão preparados para isso.

Tivemos muitos avanços na área de reconstrução mamária. A paciente que tira a mama pode ter sua imagem corporal reconstruída quase de imediato. Houve um avanço no entendimento de que a paciente de câncer precisa de cuidados de uma equipe multidsciplinar, além de médicos, com psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, tudo para conseguir ter o atendimento mais adequado ao seu caso no menor espaço de tempo. E essa luta tem que ser de todos nós.

Qual a importância de ter a imprensa e até mesmo empresas na divulgação da campanha?

Não podemos mais fazer isso sozinhos. Nós precisamos que a sociedade como um todo fortaleça essa militância, passando juntos pelos muitos desafios e entraves para que a paciente tenha acesso a tudo que necessita. Então, quando temos uma parceria como a da Água da Pedra, produzida pela Fruki, que faz duplamente o seu papel de empresa, em primeiro lugar apoiando, e em segundo lugar se colocando no lugar de empresa parceira, promovendo uma garrafinha que por si só já é conscientização, com a tampinha cor de rosa e o rótulo temático. É um exemplo louvável pelo segundo ano, num trabalho conjunto com o Imama. A mídia tem nos ajudado muito. E o #AcessoJá é um convite a todos para que nos ajudem a salvar cada vez mais vidas.

#AcessoJá

O câncer de mama tem 95% de chances de cura se o diagnóstico for feito precocemente e o tratamento feito no início. Se estiver em estágio mais avançados, existem novas alternativas que podem ser oferecidas, garantindo mais tempo e qualidade de vida à paciente. Ainda assim, essa é a forma de câncer que mais mata mulheres no país.

A #AcessoJá luta por:

  • Diagnóstico em até 30 dias pelo SUS.
  • Início do tratamento em até 60 dias.
  • Inclusão de tratamento para pacientes com câncer de mama metastático no SUS.

Por Douglas Petry

Matéria publicada na edição 31 da Gente que Faz



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